A rede está pronta



Agora é com o poder constituído. A tela de exclusão de tubarões está devidamente testada e liberada para uso após três anos de estudos. A Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) e o Instituto Praia Segura anunciaram a boa nova em janeiro. Há muito banhistas e surfistas esperam pela notícia. Não se trata de os picos Zé Pequeno, em Olinda, Acaiaca, em Boa Viagem e Curva do Sesc, em Piedade, serem o mar dos sonhos para a prática do surfe. Mas era ali, até o início dos anos 1990, que se forjavam os grandes talentos pernambucanos do esporte.

Quantos não morreram ou tiveram um pedaço do corpo decepado por um tubarão tigre ou cabeça-chata, que andavam por ali, após tantas agressões ao bioma marinho pernambucano?

A rede está aí. A desculpa acabou. Estamos frente a frente de uma ótima oportunidade de os governos estaduais e municipais investirem em segurança. E não falo só em nome dos surfistas. Defendo o banho de mar tranquilo para aqueles que nunca colocaram uma prancha embaixo do braço – ou sob os pés.

Uma orla protegida só vai melhorar a imagem daqueles 20 quilômetros de praias metropolitanas que padecem com os ataques de tubarão no Brasil e no mundo. O turista vai perder o medo. Melhor para ele e para o comércio praieiro.

À Praia Segura e à UFRPE couberam os investimentos e testes do equipamento. A rede, com base nas utilizadas em Hong Kong, na China, mostrou ser ecologicamente correta. Não captura tartarugas, golfinhos ou qualquer outro mamífero marinho. Em quatro fins de semana de instalação nas imediações do Castelinho, em Boa Viagem, pegou duas sardinhas.

A jornalista do Jornal do Commercio, onde saiu a matéria da conclusão dos testes, na última terça-feira, explicou de forma didática como o material seria disposto, vindo da beira do mar, com o formato de uma barra de futebol. As traves têm 100 metros, enquanto o travessão, 200. O retângulo forma uma área segura para tomar banho ou surfar de 20.000 quadrados – ou dois hectares.

Como cada tela chega a R$ 100 mil é necessária a participação das entidades públicas para o seu custeio. Além da responsabilidade com manejo e conservação, claro. Não me parece que investir R$ 1 milhão para distribuí-las nos principais pólos de praias metropolitanas seja um mal negócio.

É só lembrar que, num passado recente, um show de Sandy e Júnior, no Recife Antigo, custou aos cofres públicos cerca de R$ 500 mil.

Num cálculo rápido, dez telas formariam 200.000 metros – ou 20 hectares – de mar sem tubarão. É quase a erradicação total dos ataques. E, mesmo sem grandes ondas, seria a consagração da volta das cores no mar de Boa Viagem e adjacências. E o fim da necessidade de ter de viajar 50, 90, 100km para poder surfar tranquilo.

E, mais que tudo, paz para dar um simples mergulho, sem o temor de morrer após um gesto tão simples. Os pernambucanos merecem. Por todo o sofrimento.

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