ENTREVISTA/Alan Donato



Alan Donato é um dos maiores talentos do surfe pernambucano atual. E também um dos mais profissionais. Sabe se promover como ninguém, vencendo ou perdendo. Nada de cara feia na hora das entrevistas. O importante é destacar a marca que defende a camisa. Na entrevista abaixo, também se mostra um craque no discurso. Divagou sobre o futuro do surfe e o atual momento do Estado no cenário nacional com muita categoria. E falou um pouco de si. "Minha qualidade é ser um exemplo dentro e fora d´'água", afirmou. A seguir, os melhores momentos da entrevista do surfista ao Surf Is In The Air.

SURFISINTHEAIR – Como foi o seu início no surfe?
ALAN DONATO
Comecei a surfar por conta dos meus irmãos, que são surfistas até hoje. Eles sempre me levavam para praia. Não deu outra. Comecei a conviver com outros surfistas e fui me envolvendo com o esporte. Não pretendo parar tão cedo.

SURFISINTHEAIR – E quando achou que podia ser um profissional?
ALAN
Após o meu primeiro ano na categoria júnior, havia conquistado todos os campeonatos de nível Estadual. Fui campeão pernambucano júnior, bi no profissional, campeão Ipojucano em todas as categorias, campeão pernambucano escolar, campeão metropolitano e vice-Brasileiro amador, em Maracaípe. Então, decidi levar a historia mais a sério, pois só assim poderia seguir no surfe como uma profissão. Tornei-me profissional aos 19 anos.

SURFISINTHEAIR – Como você se define como surfista?
ALAN
Minha qualidade é tentar ser um exemplo dentro e fora d'água. Em qualquer esporte você tem de ter, acima de tudo, disciplina e responsabilidade. Quero seguir assim e ser lembrado não só como um profissional bom na prancha, mas sem ela também. Defeitos tenho alguns. Muitas vezes me desconcentro do meu objetivo principal. Por isso, não consigo manter a regularidade em todas as baterias das competições.

SURFISINTHEAIR – Como se encontra o surfe pernambucano?
ALAN
O surfe daqui está bombando. Temos quatro representantes na elite brasileira (Alan Donato, Halley Batista, Cezar Aguiar, Monik Santos). Isso é um fato inédito para o Estado. Estamos evoluindo na “Era pós-tubarão”, que tanto prejudicou nosso Estado, com uma faixa restrita de litoral para se praticar o surfe sem risco. Talvez os resultados expressivos estejam faltando. Mas se você for olhar por outro ângulo tivemos três atletas daqui entre os 20 melhores do Brasil em 2009. Halley acabou de vencer o Banrisul, no Rio Grande do Sul, agora há pouco, evento no qual concorriam atletas da elite presente.

SURFISINTHEAIR – Quais os motivos para essa evolução?
ALAN
Uma série de fatores estão levando o surfe estadual a esse patamar, principalmente o crescimento fenomenal do ASN PRO TOUR (circuito nordestino profissional). Com ele, os eventos começaram a aparecer e as marcas a patrocinar atletas, que podem voltar do Sul e Sudeste do País para morar em suas casas. Isso porque, agora, quem tem o melhor circuito Regional do País somos nós. Vale ressaltar o trabalho de Pena, no Circuito Nordestino Amador, trabalho de base importante para a renovação dos talentos.

SURFISINTHEAIR – Você é considerado um dos surfistas mais profissionais do circuito. Quando percebeu a importância da mídia no surfe?
ALAN
O surfe está equilibrado. Os surfistas que estão na ponta têm algum diferencial – uns talento, outros inteligência nas baterias, alguns boa tática e uns comportamento fora d’água. Está bem nítido que o surfe vem deixando de ser só um esporte de “vagabundo”. Hoje, quem não aparece cai no esquecimento. A não ser que o cara ganhe campeonato em cima de campeonato.

SURFISINTHEAIR – Você consegue apontar bons jovens valores de Ipojuca?
ALAN
Sim, existe uma nova geração aparecendo em Ipojuca, formada por Gabriel Farias, Thales Luís, Tiago Silva, Rhamon Austim, Eduardo Júnior e Tarcísio Silva. Quase todos, no entanto, tem uma condição financeira pouco estável. E isso complica porque o surfe é um esporte caro. Para se manter presente nos eventos tem de haver investimento considerável. Muitas vezes, mesmo que os pais tenham essa grana, eles pensam duas vezes se não vale mais pagar um curso de inglês ou uma escola melhor. Ao invés de investir num esporte tão incerto como futura profissão. Gabriel, Thales e Rhamon já vêm despontando nos eventos Regionais e será uma questão de tempo esses garotos estarem despontando no Nacionais.

SURFISINTHEAIR – Qual sua viagem inesquecível?
ALAN
Uma Trip que fiz com Fábio Gouveia e Bernardo Pigmeu, para Jeffreys Bay, na África do Sul, onde peguei as melhores ondas da minha vida, ao lado dos meus ídolos e amigos. Nessa trip estavam Guilherme Herdy e Halley Batista. Aquele lugar é sensacional, tem todo tipo de onda e uma atrás da outra, perfeita para você fazer o que quiser com ela.

SURFISINTHEAIR – Qual o futuro do surfe?
ALAN
Acho que evolução do esporte está “a milhão”. Cada vez mais manobras inovadoras vêm surgindo. O surfe vem sendo mesclado com o outros esportes, como o skate e o snowboard. Gerações anteriores nunca imaginaram que o esporte poderia se chegar a esse ponto. Basta pararmos para ver o que alguns surfistas são capazes de fazer em cima de uma prancha. O mercado do surfe segue em crescimento. A cada dia, empresas faturam mais com a mídia gerada pelo esporte. Para se ter uma ideia, Ronaldinho Gaúcho, considerado recentemente o melhor jogador do mundo, fez comercial para uma empresa dando uma bicicleta numa onda, dentro de um tubo. O que podemos esperar mais? Só temos que ter alguns cuidados para não fugir da real essência do surfe, como já estamos vendo hoje em dia. Será que as praias continuarão com as ondas ou vamos partir para o surfe na piscina? Da forma que o progresso vem vindo acho que vamos ter que se acostumar com o cloro, não apenas com o sal nos nossos olhos.

SURFISINTHEAIR – Existe também a categoria das marcas de surfe que tem no futebol seu alvo.
ALAN
Elas usam moda praia e surfe e gastam uma grana com futebol, atores e não investem nem 0,5% do seu faturamento no esporte, que usam a imagem. Não estou aqui para dizer onde cada um deve investir, mas acho que elas deveriam ter bom senso e analisar de onde está vindo o faturamento da sua empresa. Ou então mudar o nome das suas marcas e slogans e tirar a onda, a praia, o “surfwear”, o “beachwear” dos comerciais. Será que eles fariam isso? Acho que não, né?

Comentários

  1. Alan Donato é sem dúvida um atleta de respeito, tanto pelo lado profissional como pessoal ,é realmente um cara exemplar . Quanto as empresas que vendem o surf apenas como imagem , e fazem seus investimentos em outros esportes como o futebol por exemplo , isso é a parte que cabe ao SURFE SISTEMA NEOLIBERALISTA , E DOS QUE SÓ PENSAM EM s$ CIFRAS , esquecendo sempre da essêcia do esporte , e do densenvolvimento da base amadora , que é a própria continuação do esporte .

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