O mundo que dormia - e não tinha tempo para assistir baterias de surfe do outro lado do planeta - acordou hoje com a impressão de que Kelly Slater, simplesmente, voltou. Na segunda etapa do ano do WCT, em Bell's Beach, na Austrália, o norte-americano bateu sem piedade no australiano Mick Fanning na final. Mais que vencer, ver Kelly balançando o sino pela enésima vez, no alto do pódio, tem um significado maior. Essa é a motivação que queria para tentar o decacampeonato e suas benesses (financeiras e simbólicas)
A maneira como venceu Fanning é mais assustadora. Desde 20 anos atrás, quando entrou no ASP Wolrd Tour, tem o poder de se renovar a cada temporada. O absurdo aéreo completado na final é um exemplo. Kelly já teve a fase "base/lip", a fase pressão, a fase "estilo acima de tudo", além de ser capaz de ser tudo que já foi, adicionando um pouco de molecagem às suas exibições. Gabriel Medina, de 16 anos, voa? Ele também.
Não vou perguntar onde o fenômeno Kelly Slater vai parar por saber. Se conquistar o décimo título, no fim do ano. E agora, com uma taça logo no início da temporada, seu caminho começa a clarear. Basta lembrar de 2008. Venceu as duas etapas do Mundial, na Austrália, e o resto do ano foi administrável. Ele não ganhou na Gold Coast e já encostou no pobre do Taj Burrow, mestre entregar títulos quando o bicho pega. Taj é o primeiro, Kelly, o segundo no ranking do WCT, que vai determinar, este ano, o campeão mundial.
Aos 39 anos, o mais interessante no norte-americano não é o fato se manter intacto fisicamente - afora a careca, é como se o tempo não passasse para ele - ou até mesmo seu estilo camaleão de surfar. É como sua competitividade fresca como nos tempos de NSSA. Nos tempos de adolescência e da juventude.
Li sua biografia, escrita por ele mesmo, na qual dá a entender, em alguns momentos, que sua vontade de vencer é até patológica. Em troca de tudo que já ganhou, perdeu amigos, criou inimizades e passou noites sem dormir penalizado pela dúvida. Qual caminho seguir? Por incrível que pareça, o das derrotas, em alguns momentos, o faria mais feliz. Mas seguia em frente pela causa Kelly Slater.
Slats não é perfeito. Longe disso. Pelo dinheiro, entre outras coisas, estica sua carreira - existem, final, US$ 10 milhões num pote no fim do arco-íris. Só não cai no ridículo de deixar o tempo passar por cima. Se recicla. E ensina, para os que sabem ler nas entrelinhas, os caminhos para se chegar ao longe.
Cansado, querendo dar um fim à sua agonia, de estar onde não quer mais estar, vai fazer de tudo para chegar ao deca. Se era um estímulo que queria, chegou na hora certa. Pior para Taj Burrow. Abaixo, o vídeo da final cedido pela ASP.
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