Tabu dos bons


Jornalistas adoram repercutir tabus. Em qualquer esporte. Aquela supremacia de um time de futebol sobre o outro em determinada época; aquela equipe de vôlei, mesmo mediana, que nunca perdeu para o campeão brasileiro dos últimos dois anos. E assim vai. No surfe um tabu acaba de ganhar força. Silvana Lima, pela terceira vez consecutiva, em provas do WT Title Womens, a elite mundial, perde exatamente nas quartas de final, para a australiana Chelsea Hedges.

Atletas procuram dar de ombros para esse tipo de situação. Para eles, trata-se só de coincidência. Pode ser. No caso da disputa entre Silvana e Chelsea, principalmente. Surfe, a cearense tem de sobra para derrotar a aussie. Mas, em alguns momentos, o fator psicológico pega. Encarar o algoz, assistir tudo dando certo para ele - e nada para você - irrita, tira a concentração que é uma beleza.

Talvez isso esteja ocorrendo com Silvana. Agorinha mesmo, ao remar para o outside, contra aquela contagem regressiva de minar nervos de aço, numa última tentativa de virar o jogo, os murros na água, ao fim do tempo, denunciaram o estresse da brasileira. É como se estivesse cansada de perder para a mesma pessoa, cair nas mesmas quartas de final, ver sua posição, cada vez mais, se estabelecer no pelotão do meio.

Nas duas últimas temporadas, Silvana conheceu de perto o mel de estar entre as melhores. De impor respeito - e até medo - nas adversárias. Ser considerada a próxima campeã mundial. Essa instabilidade inicial mexe com qualquer atleta.

A adversária em questão é quem ganha. Sente o oposto dos sentimentos de Silvana. Mostra-se segura. Sabe que tudo vai dar certo, que não vai cair na onda boa da série, que vai completar as manobras sem atropelos. Psicologicamente, entra forte nas decisões. E funciona, pode ter certeza.

Silvana é experiente. Mais do que isso, é talentosa. Surfa como poucas, com estilo e pressão. Chama notas boas em qualquer condição de mar. Para quê se preocupar? É como dizem os jogadores de futebol. "Tabu foi feito para ser quebrado". Como as colocações estão se repetindo etapa à etapa, Silvana e Chelsea devem se reencontrar novamente. Tudo indica, pelas mesmas quartas de final. E quem sabe, vai ver o jogo mudar de lado.

Na real, tudo é uma questão de tempo. Só não pode estendê-lo demais. Sob pena de ficar naquele setor insosso do ranking. Na próxima, faço uma aposta. Silvana vence e tudo volta ao normal no circuito dos sonhos.

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