Cocota, o xerife de BF

Todos os dias, bem cedinho, Antônio do Nascimento, de 45 anos, vai até a varanda do segundo pavimento da casa onde mora para observar o movimento do mar. Bem em frente ao seu bar, funciona um dos picos de surfe de Baía Formosa, litoral sul do Rio Grande do Norte. Mais ao lado, checa também o Pontal, o "Paraíso das Direitas". Point break de tirar o fôlego. Se tiver bom, ele dá uma conferida com o seu funboard. Caso contrário, fixa o olho no horizonte. Não se cansa de admirirar o quintal de sua casa.

Antônio, ou Cocota, como é conhecido e apresentado para quem chega na cidade, é um desses sortudos que moram e trabalham de frente para o mar. Num dos balneários mais belos do Nordeste - quem sabe até do Brasil.

Sua família é tradicional no lugar. Fora e dentro do mar. Seus irmãos João Maria e Chicó comandavam o show de surfe na região. Trouxeram o esporte para o pequeno município, com jeitão calmo e paisagens de impressionar.

"Quando Fabinho Gouveia vinha aqui em BF (como chamam Baía Formosa), ele esperava os meus irmãos encerrarem a sessão de surfe. Queria ter uma ideia como seria a melhor maneira de surfar no Pontal", rememora o filho de pescador, que com muito custo e após um casamento bem sucedido conseguiu montar seu bar. Ali na frente, onde as coisas acontecem em BF.

"Eu sabia que as coisas iam melhorar na minha vida. Nunca me faltou vontade de trabalhar e ajuda de Deus. Trabalhei duro na pesca e, aos poucos, levantei meu bar e minha casa, na beira do mar. Sou muito feliz. E não preciso mais de nada", comenta o comerciante, que recebeu o apelido ainda na época da Jovem Guarda, por usar aquelas calças coladas, típicas dos amantes do movimento musical.

O Bar de Cocota é o point de BF. É só chegar na cidade e a garotada, que fica na área oferecendo passeios de buggy e de barco, indica o ponto como ótima oportunidade de tomar uma cerveja gelada, de petiscar ou de almoçar. Tudo é feito na hora. O atendimento fica por conta de Ademir (Foto acima), ou Sagi, como é chamado pelos locais.

A conversa corre solta. E o surfe, claro, está incluído no cardápio. Talvez por isso, a partir das 11h, diariamente, o bar comece a lotar até ficar sem mesas disponíveis. Um sucesso.

Cocota, agora, se ocupa também da carreira do filho. O expoente potiguar e nacional Alan Jhones. O garoto é a aposta da família de surfista. É só falar em Jhones que o pai coruja abre um sorriso. "Tenho certeza que sua carreira internacional está próxima. Ele é muito bom", derrete-se, enquanto mostra a galeria de trofeus do garoto.

Enquanto o filho não ganha o mundo, aproveita para alertá-lo sobre os perigos de toda caminhada.

"Alan é um menino muito bom. Confio muito nele. Tem a cabeça no lugar. Só peço que ele faça as coisas certas. Assim, sempre estarei do seu lado. Para o que der e vier", conclui Cocota.