ENTREVISTA/Pinga


O nome Luiz Campos, no surfe, pode até dizer pouco. O apelido por trás dele, no entanto, é muito forte. Pinga é gerente brasileiro de marketing da Oakley, uma das maiores marcas do mundo, e tem um portfólio de atletas de impressionar. Bastaria apontar dois: Adriano de Souza, o Mineirinho, e Jadson André, que brilham na temporada 2010 na ASP World Title. Mas tem outros, como Miguel Pupo, Caio Ibelli e Ítalo Ferreira. Isso só para citar algumas das pepitas garimpadas muito cedo, quando ainda eram guris em suas respectivas praias. É assim que ele gosta de trabalhar, guiando a garotada para o profissionalismo desde a infância. E é por isso que, aliado à infraestrutura oferecida pela Oakley, a colheita tem sido recheada de talentos. No Surf Is In The Air, Pinga fala um pouco da receita do sucesso da Oakley. E das perspectivas de um dirigente que adora esportes. "Sempre estive envolvido com esportes", afirmou. A seguir, os melhores momentos da entrevista.

SURFISINTHEAIR – A Oakley tem a melhor equipe de surfe do Brasil, sem dúvida. Como foi o início desse trabalho?
PINGA
Na realidade, a Oakley acreditou e me deu a oportunidade e a estrutura para que continuasse o trabalho que já vinha desenvolvendo. Pois sempre fui um entusiasta no trato com atletas bem novos. Inclusive, venho fazendo a mesma coisa em outros esportes também, que têm a ver com nossa marca. Uma vez dentro da equipe, nós procuramos dar toda estrutura para o garoto se desenvolver. Não apenas como atleta, mas como homem, cidadão. Assim como enfatizamos o estudo, o desenvolvimento físico e o lado psicológico. Procuramos dar todo suporte mesmo.

SURFISINTHEAIR – O Nordeste tem sido um foco importante da Oakley. Jadson André, Danilo Costa e Ítalo Ferreira, por exemplo, são potiguares. É fato que a região é um celeiro de atletas com vocação para competições internacionais?
PINGA
Sem dúvida o Nordeste é um grande celeiro. O grande exemplo é a praia de Ponta Negra, em Natal-RN. De lá, também saíram nomes como Kalunga (Ademir), Hemerson Marinho, Joca Júnior, Marcelo Numes, Danilo Costa e agora o Jadson, entre tantos outros. Eu sempre gostei de trabalhar com atletas nordestinos. E o primeiro deles foi o pernambucano Mario Neto.

SURFISINTHEAIR – Qual é o processo utilizado para chegar até o atleta e falar sobre o interesse nele?
PINGA
Sou muito observador. Procuro analisar e avaliar bastante o garoto em todos os aspectos, antes de falar com ele. Acredito que o talento é importante, mas aspectos como base familiar e outros detalhes também são muito importantes.

SURFISINTEAIR – Qual o cotidiano direcionado por vocês da empresa aos seus patrocinados?
PINGA
O surfe é um esporte individual. Por isso, cada atleta tem seu próprio tempo. E no meu ponto de vista é importante respeitar as individualidades. Tem de se elaborar um trabalho que tenha a ver com cada um do time. Assim, as coisas vão acontecer de maneira natural, sólida e consistente. Ideal também é respeitar o que é time de desenvolvimento e crescimento. Isso sem deixar o trem passar, claro. A obediência a tudo isso é fundamental. Em relação às viagens, temos um caminho claro. A partir de um determinado momento do trabalho, começa a ser focado o desenvolvimento do atleta visando o Tour. Com a busca de experiência e conhecimento das ondas e lugares por onde o Tour passa, além da intensificação das aulas de inglês e do intercâmbio fora do País.

SURFISINTHEAIR – Por que você acha que o trabalho da Oakley deu tão certo?
PINGA
A tranquilidade que a empresa dá às pessoas envolvidas no trabalho é um diferencial. Fora, é claro, a infraestrutura que é oferecida. Somado ao fato de a Oakley entender a importância de o trabalho ser a médio, longo prazo.

SURFISINTHEAIR – É muito trabalhoso gerenciar atividades numa das empresas maiores do mundo?
PINGA
Ao mesmo tempo que é trabalhoso, pois envolve muitos detalhes, é gratificante ver as coisas fluírem bem.

SURFISINTHEAIR – Uma das estratégias de marketing mais interessantes da Oakley são os famosos campeonatos sub-20, principalmente os realizados em lugares clássicos ou proibidos para “forasteiros”. Em 2009, teve o evento nos molhes do Atalaia-SC, pico fechado para visitantes. Por aqui, houve zunzunzum de que Serrambi poderia receber uma competição. É verdade?
PINGA
Com certeza, iremos sempre oferecer aos atletas a possibilidade de surfarem as melhores ondas do País, pois acreditamos que é legal para todos os envolvidos. O evento do ano passado foi épico no Atalaia. E este ano finalizamos, no Campeche, em Florianópolis-SC. E a ideia é de no ano que vem o evento ser inteiro lá. Realmente chegamos a consultar a possibilidade de fazermos a competição em Serrambi. Lá tem uma das melhores ondas do Brasil. Mas, com certeza, é um assunto que tem de ser bem conversado com as pessoas do local, caso exista a chance de ser feito lá. Tem de ser um evento que conte com o apoio de todos e que possa agregar.

SURFISINTHEAIR – Quando você foi apresentado ao surfe?
PINGA
Eu vivi minha infância em Niterói, no Rio de Janeiro, e desde de cedo tive contato com o surfe, que sempre foi muito presente na cidade. Minha vida sempre foi ligada aos esportes. Eu penso em esportes praticamente o tempo todo. Respiro isso.

SURFISINTHEAIR – Quando você assiste às performances de surfistas brasileiros em provas internacionais tira que conclusão do nosso nível atual de surfe e profissionalismo?
PINGA
Primeiro temos de ter em mente que o surfe é um esporte muito jovem no Brasil. E agora estamos começando a ter uma cultura, uma história. Por isso, acredito que cada geração virá com mais força. O esporte está amadurecendo e crescendo profissionalmente com o surgimento no mercado de bons profissionais. Estamos cada vez melhores e mais fortes. E por aí conquistamos o respeito internacional, com bastante trabalho e dedicação de várias pessoas.

SURFISINTHEAIR – Todo o “Brasil do surfe” espera o dia em que teremos um campeão mundial da modalidade. Pelas peças que você tem nas mãos, a Oakley terá a chance de finalmente ultrapassar este obstáculo que falta?
PINGA
Eu não diria a Oakley, embora tenhamos vários talentos com condições de buscar uma evolução que possa culminar num titulo Mundial. Como sempre falo, temos de ter os pés no chão e trabalharmos em busca de uma evolução constante e consistente. Para aí sim termos as condições de buscar um título de maneira sólida e forte. Um titulo mundial é muito difícil e é feito em cima de muito trabalho e persistência. Temos vários exemplos de atletas de excelente nível que nunca foram campeões e uns que nem etapas ganharam. E todos sabem que são ótimos surfistas.

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