Sempre os julgamentos...


Jano Belo (Foto acima: Nilton Santos/SuperSurf) foi enfático, na quarta-feira, sobre a avaliação dos juízes na sua bateria, no Lacanau Pro, na França, evento seis estrelas do WQS.

"Fui roubado na minha bateria... O alemão Marlon Lipke precisava de 4.8 e tirou um 5 numa onda ridícula... Valia 3.0... ninguém acreditou. Hoje me roubaram, roubaram o Pig e o Rudá... Esses juízes querem dizimar os brasucas do evento", desabafou o paraibano, por meio do Facebook.

De antemão, abomino a síndrome de "pobres coitados brasileiros, estas frágeis figuras nas mãos dos homens maus da ASP". Contra mesmo. Mas nos últimos campeonatos confesso ter visto absurdos em baterias de atletas nacionais. E a grita, até dia desses estava meio esquecida, voltou com força.

Sem ironia, pode ter sido coincidência, mas no US Open, em Huntington Beach, na Califórnia, os erros foram perceptíveis. Fáceis de observar. Em três baterias, Adriano de Souza, o Mineirinho, Miguel Pupo e, principalmente, Jadson André voaram. Nos sentidos figurado e literal da palavra.

Mineirinho caiu fora nas oitavas para o havaiano Granger Larsen. Em toda a competição, as notas de Larsen foram visivelmente majoradas. No embate com o paulista não foi diferente. Com surfe mais consistente e competitivo, diante do gringo mais focado pelas câmeras do evento, o brasuca saiu. Fez as notas, mas elas não foram reconhecidas por quem determina o vencedor.

Pupo, nas quartas, a mesma coisa. Pegou Jordy Smith, foi agressivo, moderno e fluído. Mas parece que a coisa mais difícil do mundo é vencer o sul-africano nesta temporada. Pelo talento e pelos empurrões dados pelos árbitros aos considerados "surfistas da vez". Se há um complô contra os brasileiros, não acredito. Mas que os queridinhos da hora são ajudados, isso são.

A situação mais clara de erro - doloso ou culposo, nesse fica a dúvida - foi na bateria entre Jadson e Mick Fanning. Jadson abusou de surfar contra o australiano. Queria rasgadão? Ele deu. Um aéreo? Tome alguns. Exibição "old school" para ganhar um oitão básico? Fez.

Fanning rabiscou e tirou, naquele momento, o melhor surfista da competição até então. Luiz Campos, o Pinga, assistiu a seus pupilos caírem de forma questionável. Mas pensou no futuro. Evitou o embate com a ASP. Está certo.

No Facebook, a opinião de Roberto Perdigão, presidente da ASP South America, sobre as avaliações, me deixou encucado. Ele falou da lisura dos julgamentos e, para justificar a saída dos brasileiros, notadamente Jadson e Miguel, comentou que faltou variedade nas manobras aplicadas pelos jovens valores nacionais. A garotada se prendeu demais aos aéreos, acha Perdiga.

Não entendi nada. A própria ASP elevou os aéreos à vedete dos campeonatos de surfe internacionais, ficando as manobras atrás somente dos tubos, ainda muito valorizados. A própria ASP fincou a bandeira da modernidade no esporte que rege, vaticinando que os voos, seja que tipo for, chegaram para ficar. Quem os dá, será recompensado.

Acha correto ou não os novos rumos do esporte é outra discussão. Jadson e Miguel fizeram o que se pede. O que levanta a galera na praia. E foram taxados, nas entrelinhas, de pragmáticos. Sem ousadia, sem criatividade... Discordo. Mas para quê criar caso? Como Pinga, mirar o futuro é necessário.

Em Noronha, este ano, tive a oportunidade de falar com alguns árbitros para uma matéria do Jornal do Commercio. E Lapo Coutinho, considerado um dos melhores do mundo, foi afirmativo: "As arbitragens estão perto da excelência". Os caras acham mesmo. Não é força de expressão.

Aqui e ali, ultimamente, tem se escutado desabafos como o de Jano. Tirando a questão do exagero que muitos apresentam e a desculpa de colocar o peso da derrota na arbitragem, trocar ideias e argumentar com os caras é bom. "Falei com o árbitro e ele ficou tremendo porque sabia que tinha errado", comentou Jano. Começar a mostrar que entende do riscado é um bom caminho para que coisas do tipo não ocorram mais.

Como Jano, os brasileiros têm de se impor com o argumento. Ir na boa, com razão, expor conhecimento. Isso também é evoluir junto com o esporte. Sem deixar se abater por um complô mundial, que simplesmente não existe.

Comentários

  1. Muito boa a ponderação, Marcelinho. O conteúdo desse blog tá ficando cada vez mais show! Abraço!

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