ENTREVISTA/ FELIPE "GORDO" CESARANO

Gordo em Waimea Bay, Havaí (Foto: Bidu)
Gordo em Puerto Escondido, México (Foto: Bidu)

Felipe Cesarano nem é mais o seu próprio nome. É apenas o "Gordo". Aquele garoto carioca, esperto, boa gente, alto astral, safo, que faz todo mundo rir e, principalmente, está no surfe para pegar as grandes ondas. E é isso que o diferencia. É novo. Tem 23 anos. E um tempão pela frente de aprendizado e de muitas condições extremas para enfrentar. Foram nas sessions cavernosas que fez o mundo olhar direitinho aquele garoto que mais que falar - e ele fala mesmo -, quer mesmo é dropar a maior. "Desde pequeno queria pegar a onda do dia. O maior tubo", conta. Foi destaque do Prêmio Waves/Fluir, este ano. Levou a estatueta que disputou. Nos próximos anos, prepara novas ações. E 2011 promete ser o primeiro do resto de sua vida. "Vou correr o mundo atrás das grandes ondulações", revela. Sonho realizado. Boa sorte para Gordo. Que atitude, ele já tem de sobra. Abaixo, os melhores momentos da entrevista esperta e alto astral, bem típica do carioca, concedida para Surf Is In The Air.

SURFISINTHEAIR - Como um surfista da nova geração, de talento reconhecido, simplesmente toma a decisão de focar ondas grandes ao redor do mundo?
FELIPE GORDO CESARANO
- Cara, para falar a verdade, eu não me vejo em condições de me dar bem num circuito normal. Hoje em dia é muito disputado. Existem milhares de caras muito bons. E para conseguir viver pelas competições teria de me destacar bastante. No meu caso as coisas acontecem mais naturalmente, pois amo surfar essas ondas e não preciso competir com ninguém, apenas comigo mesmo. É uma questão de superação, de querer estender os limites. Conseguir um bom patrocínio e viver disso foi uma consequência natural.

SURFISINTHEAIR - Desde pequeno você foi atirado?
GORDO
- Sempre gostei de pegar maior do dia. Botar para dentro do maior tubo, desde moleque. A ideia é sempre a mesma. Só as proporções que aumentaram um pouquinho (risos).

SURFISINTHEAIR - Sua escolha deu certo. No último prêmio Waves/Fluir você foi o arrasa-quarteirão. Você sente o feedback do seu patrocinador?
GORDO - Com certeza. As coisas evoluíram bastante, todos meus patrocinadores ficaram muito satisfeitos e estão me apoiando legal nos projetos. A partir do ano que vem, eu terei estrutura financeira para estar em todos os swells gigantes ao redor do mundo.

SURFISINTHEAIR - No mesmo prêmio fluir, você ganhou a estatueta de "maior vaca". Qual foi e como foi o sufoco?
GORDO
- Na verdade, essa onda impulsionou a minha carreira e começou a me dar algum tipo de destaque na mídia, por ter sido em Pipeline e no melhor mar dos últimos anos. Foi um dia épico. As ondas vinham lá do terceiro reef, muito perfeitas e alinhadas. O que rolou foi que, quando ela começou a rodar na primeira bancada, botei pra dentro. Cheguei a fazer uma pose, pois o tubo era gigante, e nessa hora um spray monstro me desequilibrou. Depois, uma bola de espuma me derrubou de vez, mas tive sorte porque, mesmo a onda tendo sido enorme, não bati no coral nem nada, mas tomei um caldinho legal (risos).

SURFISINTHEAIR - A adrenalina é uma substância que mexe muito com você?
GORDO
- (Gargalhada) É um pouco viciante isso sim, cara. Eu fiquei um mês no Tahiti. E em apenas um dia deu pra sentir aquela adrena. Acho que todo mundo que faz algum tipo de esporte radical precisa viver isso. No meu caso, quando fica muito tempo sem dar onda, sinto-me meio insignificante, meio perdido... Preciso daquela adrena pra me sentir mais vivo. Difícil explicar, mas é muito bom (risos)!

SURFISINTHEAIR - Como é para um jovem ser referência entre grandes mestres das ondas grandes, como Burle e Eraldo?
GORDO
- Cara, devo muito à geração deles. Eles foram os pioneiros, abriram muitas portas. Sem eles não saberia que rumo tomar. Agora sei que posso fazer disso tudo o meu sonho, a minha profissão. Espero não decepcionar e continuar pegando as bombas por um bom tempo, já que sou bem novo ainda.

SURFISINTHEAIR - Pensa um dia em correr o circuito de ondas gigantes?
GORDO
- Na verdade, penso sim. Mas precisa ser convidado e ainda tenho muito o que provar para poder estar nessa lista. Estou fazendo o meu trabalho e acredito que tudo tem o seu tempo.

SURFISINTHEAIR - Como está sendo feita a preparação para mais uma temporada no Havaí?
GORDO - Minha preparação sempre foi estar na água. Nunca fiz nada específico. Mas este ano quero chegar bem condicionado e estou fazendo um treinamento na Body Teach, com o Lucas Freitas e Salvador Lamas.

SURFISINTHEAIR - Como você foi levado ao surfe?
GORDO
- Morava perto da praia e alguns amigos mais velhos já surfavam. No caso foi até o meu preparador, Lucas e o irmão dele, Tom, quem foram os primeiros a botar pilha e me levar pra surfar. Época boa que qualquer meio metrinho já fazia a cabeça (risos).

SURFISINTHEAIR - Acha que tem chance de correr um circuito como o WQS, por exemplo?
GORDO
- Não tenho chance e nem vontade.

SURFISINTHEAIR - Que dica você daria aos atirados que sonham viver pegando as big waves mundo afora?
GORDO - Vai em frente, ninguém é super-homem. O que diferencia é a experiência e o costume. Se quiser mesmo tem que botar a cara e estar na água nos dias grandes. Aos pouquinhos você vai se acostumando. E as coisas acontecem naturalmente. O medo sempre vai existir. Então, não se sinta mal, com certeza aquele cara do seu lado vai estar com medo também (gargalhada).

Abaixo, vídeo da sua atuação em Waimea, este ano.
Um drop animal e uma vaca, idem.

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