ENTREVISTA/Pedro Robalinho


Pedro Robalinho é um dos idealizadores do Centro de Aprendizagem e Desenvolvimento do Surfe. Seu Cades, como é conhecido, tem muito a dizer, em épocas de profissionalização do esporte. Gerencia, desenvolve e usa o surfe para fazer evoluir não só profissionais e amadores, como ajudar a população em geral, que anseia pela melhora de vida por meio de uma prática saudável. Robalinho é um ícone nacional da gestão de atletas. E traz luz aos novos tempos. "Considero fundamental a interdisciplinaridade, pois não é possível um só profissional suprir todas as necessidades de um atleta profissional, ainda mais nos dias de hoje", comentou. Abaixo, a entrevista mostra um pouco o trabalho desenvolvido pelo Cades e a importância de se ter uma pessoa certa, na hora certa, para conquistar algo maior no surfe. Imperdível para aqueles que querem crescer como profissional.

SURFISINTHEAIR - Qual o trabalho desenvolvido pelo Cades?
PEDRO ROBALINHO - A sigla quer dizer Centro de Aprendizagem e Desenvolvimento do Surfe. E é composto de três frentes principais: Escola de Surfe (iniciação), Treinamento (para profissionais e amadores) e Projeto Social (ONG multidisciplinar). Além desses três, temos o interesse em qualquer forma de desenvolver o surfe na sociedade, como participação em eventos, organização de surftrips, palestras e cursos.

SURFISINTHEAIR - Acompanhamento multidisciplinar é vital no surfe?
ROBALINHO - Sim. Desde o princípio do meu trabalho, há mais de 10 anos, que agrego outros profissionais de áreas afins no meu sistema de treinamento, como o Dr. Helio Ventura (ortomolecular), os fisioterapeutas João Marcos e o Tom Freitas, o psicólogo Narciso Melo, entre outros. Considero fundamental a interdisciplinaridade, pois não é possível um só profissional suprir todas as necessidades de um atleta profissional, ainda mais nos dias de hoje.

SURFISINTHEAIR -O trabalho já é reconhecido pelo meio?
ROBALINHO - A cada dia que passa o trabalho é mais reconhecido. Se eu for citar a época do pioneirismo de Caio Monteiro, grande treinador, campeão do mundo pela equipe amadora de 2000, e refletir sobre isso tudo que fizemos nos últimos anos, tenho de afirmar que conquistamos muito espaço. Acredito que, no futuro, todas as empresas interessadas em ter uma equipe de surfe terão um setor voltado para a otimização dessa área, que conte com profissionais de educação física, fisioterapia, gestão e etc.

SURFISINTHEAIR - É difícil convencer os surfistas do acompanhamento profissional?
ROBALINHO - A maioria dos atletas profissionais do Brasil gostaria de ter ou tem um treinador. Existe uma dificuldade na questão financeira para que isso se concretize. Os custos de um trabalho de técnico que acompanha os atletas pelo circuito é bem elevado para o bolso dos atletas, mas no dia em que isso passar a ser obrigação do investidor, e não do atleta, aí vai ser unanimidade. Todos terão treinadores. Acredito que essa conscientização das empresas patrocinadoras já começou. Eles perceberam que o desperdício de um investimento mal feito em atletas pode ser um desastre para a marca. Os atletas precisam de cuidados especiais, assim como de direitos e deveres mais claros e objetivos, definidos em seus planejamentos. O profissionalismo está se elevando no nosso esporte e a tendência é que isso aconteça cada vez mais rapidamente daqui para frente.

SURFISINTHEAIR - Que importância tem ser surfista nessas horas?
ROBALINHO - Acho muitíssimo importante. Se você faz parte do meio como praticante, já tem um diferencial. Tenho o ponto de vista de quem vê e de quem é visto. Tenho a experiência teórica e a prática. Posso vê-los de perto, de dentro d’água ou de fora. Quando um atleta te vê pegando um tubo, por exemplo, você pode não surfar mais do que ele, mas ele passa a ter um respeito maior por você e pelo que você fala. Faz uma grande diferença. Surfar faz bem para saúde. E estar melhor com seu corpo e sua mente também ajuda muito no trabalho. Tem que surfar!

SURFISINTHEAIR - Existem problemas específicos para se trabalhar com surfistas?
ROBALINHO - O mais difícil, com certeza, é a questão da disciplina e a noção de o que é realmente ser atleta, na forma correta da palavra. Outra questão é a financeira. A maioria não tem ideia de como cuidar do dinheiro e as escolhas são, muitas vezes, desastrosas. Por isso, sempre preguei a separação entre salário e custos dos circuitos na hora de uma empresa pagar ao atleta. A grande maioria recebe tudo misturado e isso dificulta a vida deles e dos próprios patrocinadores, que não têm o dinheiro devidamente direcionado para os propósitos corretos. A profissão surfista é uma das únicas do mundo onde custos de trabalho e salário estão misturados em um só pagamento. Isso quando esse montante é, pelo menos, maior do que os custos previstos desse atleta naquele ano.

SURFISINTHEAIR - A frase: “Nunca tivemos tão bem servidos de talentos” é real?
ROBALINHO - Já tivemos boas fases no circuito mundial em épocas diferentes. Acho que ainda estamos num patamar parecido com o da época de Fabinho, Teco (Padaratz) e Vitor Ribas, vide os resultados em rankings finais. Mas acredito muito no Mineirinho, que já se tornou top 5 em 2 temporadas seguidas. Isso já é um grande feito para um brasileiro. Enquanto houver um julgamento que desfavoreça os brasucas, como acontece há muitos anos, ficaremos nesse clima de coadjuvantes na cena total. O bom é que temos estado com mais frequência no pódio. Vamos chegar lá!

SURFISINTHEAIR - Existe um próximo passo do Cades em busca de maior aperfeiçoamento?
ROBALINHO - Sim, a cada dia trabalhamos para isso. Agora o maior esforço segue em direção da oportunização dos desfavorecidos à pratica do surfe e outros esportes, como skate, jiu-jítsu, kung-fu... Nossa ONG cresce a cada dia, na Praia da Macumba, e já atende muitas crianças da região do Recreio dos Bandeirantes e adjacências. Claro que, como treinador, tenho no Pablo Paulino o foco para buscar espaço mais uma vez entre os tops mundiais, com o intuito de chegar ao tão sonhado título mundial.

SURFISINTHEAIR - Um trabalho como o seu funcionaria bem no Nordeste?
ROBALINHO - Com certeza. Já tenho planos para isso e parcerias estão sendo formadas. O CADES não se limita ao Rio. Tenho visitado muitas praias do nordeste e estou de olho na nova geração. O Titanzinho ainda me enche os olhos, pois é um lugar pequeno e com grande concentração de excelentes surfistas.

SURFISINTHEAIR - Você já está pensando na preparação dos seus atletas visando as provas havaianas?
ROBALINHO - Sempre preparamos as pranchas com antecedência e o treinamento se modifica um pouco para atender a demanda de ondas maiores. Mais treinamento de força e remada explosiva.

SURFISINTHEAIR - Sobra um tempinho para o surfe? Quais os seus picos preferidos?
ROBALINHO - Adoro surfar em frente de casa, na Macumba. Tem gente que pensa que a onda aqui é sempre gorda, mas não é. São vários picos em uma mesma praia. O Recreio, no posto 10 ou no 11, dá altos tubos e serve como treinamento para quando rolam as viagens. Adorei o Tahiti, mas meu xodó mesmo é Honolua Bay, em Maui, onde a onda é muito boa e tenho grandes amigos de muitos anos.

SURFISINTHEAIR - De tanto conviver com os profissionais, o que você aprendeu com eles?
ROBALINHO - Cada pessoa é um universo. Aprendi com todos os meus atletas. Hoje sou amigo de vários deles. Por outro lado, nem falo com alguns que já treinei e até abri minha casa para abrigá-los. Aprendi a lidar melhor com a ingratidão, o que considero um grande aprendizado para mim como ser humano. A cada dia que passa separo melhor o profissional do pessoal. Com certeza essa vida que escolhi seguir não é a mais simples e fácil, mas tem sido esclarecedora e proveitosa. Adoro o que faço e me sinto com muito gás para arrebentar nos próximos anos, dando sequência aos diversos títulos que conquistamos a cada ano. Vamos que Vamos!

Comentários

  1. Sabias palavras robalinho. Excelente entrevista! Muita sorte e muito surf pra galera do CADES. grande abraço.

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  2. Exelente entrevista, muito esclarecedora!

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  3. É ROBALO, COMO SEMPRE, CAPRICHA NOS DEPOIMENTOS E SABEDORIA DE VELHO!!! QUANTOS ANOS VOCÊ TEM MESMO?HAHAHAHAHAH...ABRAÇÃO E PARABÉNS.
    CLAUDEMIR LIMA "BIBI"

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  4. Robalinho, Ricardo Bocão começou "Esta forma" de Empresariar faz tempo, a Multidisciplina é uma Realidade que até se Sobrepõe ao Talento. Me Surpreende, termos nos Ultimos Anos Poucas Figuras Cativas Brazucas entre os Tops. Te vi quando Começou, Respeito tua Ambição, mas penso que Vc, como o "Cabeça" Deveria estabelecer Uma Meta e Alcança-la.Pelo que Acompanho o Número de Brasileiros vem Decrescendo no Ranking, Apesar de Melhor Estrutura, Acompanhamento, e Apoio Multidisciplinares. Sinceramente, Sou da Fase que Renam Pitangui Rabeava Liam Mcnamara no 3Reef de Banzai Pipeline, e Isto me Causava Arrepios. Já o que Fazes... Deixa Para lá. Em Suma, Aperfeiçoe o SEU SURF, "Aguas Salgadas", Boas Ondas e Boa Sorte! Nada do que Escrevi foi Pejorativo, ou Mesmo de má fé. Se Lembra do Zé Paulo(Quiksilver), tem muita Gente Boa que Abriu o Teu Caminho a Foice e Faca. Seja Grato e Humilde. Abraços, André Gaal

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  5. Valeu Robalo representou...e ae O André Gaal ou JOÃO NINGUÉM, pois não te conheço como nada até agora pra mim tu é só um baba ovo do Zé Paulo, Bocão e demais que pelos menos tem história e históricos para contar...mas o recalque é explícito...RESPEITO É PRA QUEM TEM...VALEU ANDRÉ GALLALAU...Marcello Messias.

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  6. Parabéns Robalo, ótimas palavras e uma excelente visão sempre.
    O trabalho do CADES tanto na preparação e no desenvolvimento do surfe, assim como na integração, é fundamental,o CADES hoje é uma referencia, não só pelo Robalinho mas por toda a equipe.
    Robalinho , claro, pela experiência de alguns anos fazendo seu trabalho gerenciando , acompanho e estudando o surfe, se torna também, uma referencia nacional.
    O surfe hoje, no Brasil principalmente , esta se desenvolvendo muito, buscando cada vez mais o profissionalismo. Para um atleta profissional , esse suporte com uma equipe qualificada no se treinamento, no surf e extra-surf,é fundamental para quem quer alcançar grandes objetivos. No Brasil inteiro tem excelentes surfista, que pela falta de suporte, vão continuar sendo grandes surfistas ,talentos não aproveitados pela falta de apoio e incentivo. Parabéns pelo projeto.
    Bom enfim, acho que ja viajei muito aqui.

    Ah " Enquanto houver um julgamento que desfavoreça os brasucas, como acontece há muitos anos, ficaremos nesse clima de coadjuvantes na cena total.",
    Todos nos, realmente achamos que há essa perseguição aos brasileiros, mas havendo ou não,acho que não foi correto por parte do Robalo colocar isso, não que ele esteja mentindo ou esta certo , mas da parte de que é uma pessoa influente e esta no meio, tem que mostrar que podemos sim , surfar cada vez mais, nos adequar cada vez mais ao "critério" treinando , aperfeiçoando e desenvolvendo o profissionalismo do surfe no país.

    Bom, parabéns Robalo e muito sucesso, torço muito por voce, pela equipe e principalmente pelo surfe brasileiro.
    Valeu

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  7. Ah, muito blog, parabéns também.

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  8. A realidade da vida dos atletas nem sempre é refletida as claras e com certeza o Robalinho sabe o que se passa na frente e por tras do grande espetáculo. A maioria de nós ve o surf como algo lindo, mágico e uma vida que todos gostariam de levar, mas nao é bem assim....existe muita ralaçao, deicaçao, paciencia e acima de tudo amor para fazer desse esporte um esporte menos rotulado e mais educativo e expressivo no cenario mundial. Principalmente no Brasil e principalmente pelas atitudes de alguns que trabalham com o surf. Paraben Robalinho por continuar nessa lutar e passar por cima de todos os leoes que tentam disvirtuar seu caminho. Voce é um cara que faz diferença para a melhoria do esporte do aprendizado ao treinamento. Continue assim, admiramos seu trabalho!

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