Alívio chamado Deca

ENFIM O DECA Slater vibra com o título mais emblemático da carreira
ESTILO Na final, rasga com estilo para vencer o australiano Bede Durbidge
TUBAÇO Mineirinho deu mole, e o norte-americano pegou um canudo 9,87
SEM MÃOS Por muito pouco faltou apoio para levar tantos trofeus
MUNDO NAS MÃOS Com a prancha no pé, Slater conseguiu domar o planeta
ÍDOLO Kelly nos braços do povo do surfe. Cena inesquecível
A plateia espalhada pela sala de minha casa não entendia o que aquilo significava. Estava ali, inicialmente, pensando no jogo do Sport contra São Caetano - uns para torcer a favor, outros contra. Até que um telefonema deixou a espera pela partida, em São Paulo, mais animada. Melhor dizendo, histórica. "Marcelinho, o homem vai entrar na bateria agora. E a disputa vai ser transmitida pela ESPN", avisou o interlocutor do outro lado do telefone, Rodrigo Lobo. O embate sugerido era o de Slater x Mineirinho, pelas quartas de final da etapa The Search da Rip Curl, na Praia de Middles, em Porto Rico. Valia passagem às sêmis, mais ainda, valia o decacampeonato do maior surfista de todos os tempos.

"Vocês vão ter a honra de assistir de perto uma passagem histórica", disse, empolgado, para uma galera nem aí para o que estava por vir. Mas eu estava. E me regozijava de estar no momento certo, na hora certa. Ao tocar da sirene, me dividi entre os dez títulos e a vitória de Mineiro. Só não fiquei mais atordoado com minha indecisão porque Slats venceu o jogo aos cinco minutos de partida. Foi o tempo que precisou para fazer um 9, depois um 9,87, e decretar o título mais emblemático de todo mundo, de todos os esportes. Ninguém foi tantas vezes campeão mundial como ele.

Slater é a personificação de tudo que ele mesmo pensou para a sua carreira. De talento incontestável da NSSA - circuito de base do surfe norte-americano - ao décimo título mundial, uniu o talento metamorfo a um profissionalismo ferrenho, que o transfomaram no que é. Mais que suor e raquetadas no lip da onda, lágrimas rolaram durante os seus 20 anos de circuito mundial. Para se transformar neste ET, que aos 38 anos ainda assombra uma juventude que, paradoxalmente, não tem medo de extrapolar os limites, ele teve de se matar um pouco a cada dia. Tudo por um título maior, que era sempre o próximo.

O "último próximo" chegou. Slater alcançou a décima taça. Alcançou a sua libertação. Já estava se transformando num atleta rabugento, dono da verdade, cheio de manias com um único objetivo: beneficiá-lo. Era o resultado de estar preso a uma meta dura, quase subumana. Na sua primeira biografia (Pipe Dreams), sente-se claramente as dores de uma trajetória sem desvios. Mas ele se libertou. Tanto que, aposto, não vai mais seguir o circuito mundial, a partir de 2011. Vai marcar presença em eventos-chave. E só. Curtir a liberdade é preciso. Acordar sem a necessidade de vencer aliviará a sua alma, certamente.

Na minha sala, o afago carinhoso em Mineirinho, as mãos com os punhos cerrados apontadas para o céu, as lágrimas, o ídolo carregado pela multidão, pouco significavam. Para mim, no entanto, tratava-se do pequeno trajeto de um rei, com todos os seus matizes. A minha parte também estava encerrada ali. Desliguei a televisão, coloquei o som para funcionar, enchi o copo de cerveja e também me libertei.

A trajetória de Slater em Middles, a partir das quartas de final, até a vitória sobre Durbidge, na finalíssima, vai logo abaixo. Assista e também sinta-se parte do momento que certamente, para os amantes do surfe, é o mais importante de todos os tempos.

Quartas (Slater x Mineirinho)


Sêmis (Slater x Taj)


Final (Slater x Bede)

Comentários

  1. Não entendia uma vírgula. Eu estava lá e sei o que é....

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