Uma máquina chamada Heitor

Foto: ASP Europe/Divulgação
É CAMPEÃO! Heitor fatura o seu quarto caneco na temporada 2010
O surfe é uma caixinha de surpresa. Até que alguém prove o contrário. Um caso emblemático desta vez foi o do cearense Heitor Alves. No Santa Pro, finalizado nesta segunda-feira (01/11), nas Ilhas Canárias, fechou com chave de ouro um ciclo vitorioso imposto sem piedade durante o evento, digno dos verdadeiros campeões.

Nas esquerdas do point break de  San Juan, em Lanzarote - com  até seis pés sólidos -, ele venceu o norte-americano Cory Lopes (13,50 x 12,44) por um placar apertado, de certa forma. Mas, em nenhum momento, a taça esteve fora de suas mãos.

Em todo Santa Pro, Heitor Alves fez valer a sua condição de cabeça de chave número 1. A cada virada de fase, estava lá, o cearense, pronto para mais um show. Duvida?

Nas suas sete disputas, só fez menos que 17 pontos em três oportunidades - uma delas na grande final. Nos rounds 3, 4, nas quartas e nas sêmis marcou, respectivamente, 17,87, 18,10, 17,67 e 17,50. No 2, ainda meio que se ambientando à competição, fez 14,17 e no 5, cravou 14,74.

Deve ter sido a performance mais consistente de um surfista num WQS, este ano. Uma bateria, em especial, mostrou o que era a máquina de vencer Heitor Alves. No round 5, diante Gony Zubizarreta, ganhou com 14,74. Sei que essa não foi a mais impressionante de suas apresentações em termos de pontuação. Mas a frieza para virar o jogo, tendo na sua lista apenas ondas insignificantes, faltando oito minutos para o término da disputa, foi de espantar. Pegou duas ondas, foi certeiro, e prosseguiu.

Este ano, Heitor foi uma máquina de competir. Assim como a performance magistral em Lanzarote, dificilmente alguém deve ter tido, nos tempos modernos do surfe, uma exibição tão primeiro nível num WQS como ele. O cearense venceu três etapas seis estrelas no ano e, agora, soma mais uma, só que prime. Numa época em que a ASP faz questão de reduzir quadros de profissionais na elite e dificulta ao máximo a entrada de atletas no seu World Title, Heitor foi contra tudo e todos.

No ASP World Ranking que será divulgado nas próximas horas, com os 6.500 pontos adquiridos no Santa Pro, deve ficar na frente de atletas WT de certo peso, que estão classificados para o próximo ano. Isso, levando-se em consideração uma proporção desqualificada entre as pontuações de eventos do WT com as competições do WQS, é um feito a ser comemorado.

Na época que entrou no WT pela primeira vez, há três anos, Heitor chamou atenção de Kally Slater, pelo surfe veloz, fluído e moderno. E olhe que para Slater, do alto do seu egocentrismo, exaltar um brasileiro, que certamente considera um ser menor no mundo do surfe, é grande coisa. O cearense vai estar entre os melhores, certamente, em 2011. Só falta, na elite, deixar de lado o acanhamento habitual dos brasucas e, enfim, tomar um lugar que é seu.

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