O surfista e o vento

Fotos: Pedro Abreu/ZDL
SÓ FELICIDADE Ulisses e Júlio César carregam Luel, em seu primeiro título profissional
ESTILO Luel finaliza na junção com pequeno aéreo e mostra boa fase
PÓDIO Pernambucano faz a festa em meio aos paulistas
Às vezes, o vento muda de direção e tudo se transforma. Para melhor.

Lembro de Luel Felipe, no início do ano, com um ar de enfado. Estava cansado de bater na mesma tecla. Necessitava de um patrocínio digno para poder exercer com traquilidade a profissão que escolheu, mas entendia que seu pleito, a cada dia, tornava-se mais difícil. Do pai, escutou que receberia ajuda financeira para competir. Mas se fizesse uma faculdade. Atendeu de pronto, claro. E, num ato dos mais difíceis para aqueles que estão desistindo de um sonho, constatou que o surfe era mesmo um esporte difícil para seguir uma vida profissional, ainda mais sendo do Nordeste e de Pernambuco, onde as coisas começam a reagir, embora seja muito cedo para comemorar uma sedimentação do mercado do segmento.

Mas aí entra o tal do vento. Direção oposta, novos ares e... como já se falou, tudo se transforma. Luel venceu no último domingo a primeira competição da sua curta vida de profissional. Foi a última etapa do Campeonato Paulista (Maresia Paulista Pro), disputada em Itamambuca. De logo no bico da prancha, foi também o primeiro grande triunfo da dupla pernambucana - Luel + Seaway, de volta ao surfe após período de "litígio".

Antes de qualquer coisa, o surfe é um esporte para quem se mantém constante. Não basta vencer um evento e, no mesmo ano, ir mal em todos os outros. Não é bom tirar um 10 e só voltar a anotar nota semelhante de dois em dois anos. Luel foi constante desde a etapa de Várzea do Una, em Pernambuco - neste segundo semestre. Antes da disputa, garantem os amigos, mostrava-se apreensivo. Precisava de resultados. São as taças que despertam a curiosidade das marcas e a primeira parte do ano havia sido sofrível. Escutou de Halley Batista que ia se dar bem em Várzea. A premonição era real. Luel ficou em segundo, atrás do próprio Cometa, o grande campeão.

Ali, como num passe de mágica, tudo mudou. Com ajuda do pai, Nem Batatinha, Luel tirou folga do curso de publicidade e viajou para o Rio de Janeiro, a fim de disputar etapas do WQS. Impressionou os árbitros com suas raquetadas de backside, tanto no Arpoador como na Barra. Nos dois eventos ficou na terceira posição. É muito. Principalmente para quem começou lá trás, no round dos 128. Logo depois, participou de outros dois eventos da ANS Tour 2010. Foi melhor que nas etapas anteriores à da Várzea do Una e encerrou a temporada regional em 17º. No domingo, para finalizar o ano, venceu a última competição do Paulista.

Aos 15 anos, Luel mostrou ao Brasil a sua força, principalmente nas ondas pesadas. Venceu o The King of de Gromms, na Praia da Macumba, no Rio de Janeiro - "três metrão" - e competiu o Mundial da Quiksilver para os sub-16, na França, ficando na quinta posição. Fez boas participações nos circuitos júnior nacionais, posteriormente, mas emperrava na falta de patrocínio. Mostrou que, com o apoio, todo mundo pode sobressair. E Maracaípe está cheio de talentos esperando oportunidade maior. Fica claro que, com algum investimento, desde a infância - em viagens, principalmente -, as coisas têm tudo para fluírem melhor.

A alegria de Ulisses Meira e Júlio César carregando o pernambucano nos braços, na saída do mar, em Itamambuca, parece até premonição de que um novo talento está na área para brigar por títulos. Ele chegou lá, entre feras paulistas, e se deu bem. Isso não é fácil. A jornada só está começando. E saber viver sabores e dissabores da profissão é essencial para quem quer chegar longe. E foco sempre. Só assim Luel vai poder viver plenamente, agora com patrocínio, o sonho que escolheu para transformá-lo em realidade. Talento tem de sobra.

Abaixo, ótimo vídeo filmado e editado por Leonardo Menezes, do site Ondulação (www.ondulacao.com.br), para quem conhece pouco do surfe de Luel. As imagens vão das mais antigas as mais novas. Só um adendo: Leo é um dos poucos que apostam todas as fichas no pessoal de Maraca. Estou com ele.

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