Conexão Peru: Reminiscências

Fotos: Gizele Santos/Divulgação
ANYWHERE PERU Ruclécio dropa no pico secreto: "Semelhante ao Havaí"
MINICHILCA O big rider também teve seus dias de marola. Diversão pura
RESGATE Jet-ski é tirado de Pico Alto, após ser virado por uma onda
QUIVER Ruclécio e suas balas, incluindo uma gun e suas famosas Transformers
Fim da linha para o shaper e big rider pernambucano Ruclécio Lucena, em sua mais nova temporada no Peru. Abaixo, suas últimas impressões. O texto é grande, mas imperdível. Se você gosta de ler, conheça um pouco mais do País das Ondas Perfeitas. E dos prazeres de surfar em codições épicas e fazer amigos.

27 de abril
Estamos voltando para o Brasil e, ainda no vôo, senti a necessidade de escrever. Sentado na minha poltrona, um filme passava em minha mente. Afinal, foram muitos os momentos vividos no Peru. Conheci pessoas que deveria ter conhecido antes; revi amigos que eventualmente encontro nessas viagens; e o principal: surfei ondas sonhadas desde minha adolescência.

Acredito ter feito uma das melhores viagens da minha vida. Não só pelas ondas, mas também por ter descoberto outras que só havia ouvido falar. Nunca as surfei por um motivo ou outro. Além disso, venci monstros menores, que precisavam ser sobrepujados na minha mente. Até para um dia vencer monstros maiores.

Ter surfado sozinho Pico Alto, com minha 9 pés, em ladeiras de aproximadamente 10 pés, foi emocionante. Um passo decisivo na maratona que pretendo correr em minha vida. Surfei também Chilca 3 a 4 pés, uma onda que segundo Beto Chalaça e Eduardo Rato Fernandes parece com Noronha, apesar de tê-las pego pequenas.

Fui apresentado a Tom, um novo amigo porto-riquenho, que vibrava a cada onda surfada. Um amante das boas em um pico secreto, exótico e proibido por estar situado num condomínio. Apesar de um feriado nacional, tinha apenas três pessoas surfando.

Fui convidado por Tom a cair no dia seguinte, às 6h da manhã, em El Passo, uma onda que, segundo ele (que já viajara por quase todo o mundo), é a do Peru que mais se aproxima com as do Hawaii. Foi divino. Pegamos tubos registrados por sua simpática esposa e surfista norte-americana Jéssica, que infelizmente não teve tempo de ceder às imagens. Nesse dia senti a falta de uma prancha 7’4’’. A minha Transformer 6 ’6” modifiquei para 6’9’’. E, mesmo assim, dropava no limite.

Tom me alertava que as ondas estavam de médio porte. Isso me faz pensar em planos futuros para estar lá. Para quem não as conhece, tem muitas pedras com ondas pesadas e verticais. Se a cordinha não funcionar, a saída certamente será trágica, devido a força e correntes que te empurram para as pedras. Assim, recomendo uma cordinha curta, mas grossa para não partir ou prender nas varias pedras no decorrer da parede. Por causa dos perigos, poucos a surfam.

Surfei também nos vários picos que já conhecia, mas meu objetivo nas minhas viagens ao Peru é sempre Pico Alto. Dessa vez, em meu quiver, tinham duas pranchas de tow-in e, uma delas, era uma Transformer de 5’11’’ para 6’2’’, com chumbos removíveis, tornando-a mais pesada, com aproximadamente 10 kg. Seu peso original é 6,5 kg e, de largura, 16 polegadas.

Certa manhã, meu amigo e mestre Luisfer me convidou para entrar em Pico Alto. Era o dia maior. Fiquei feliz, pois não acreditava numa condição memorável. No entanto, vi ondas de 12 a 14 pés e vi duas que me pareceram ter por volta dos 17 pés. Porém, com bumps desagradáveis e perigosos, só em estar ali era motivo de muita satisfação.

Desta vez, as maiores teimavam em ir para longe dos meus momentos, apesar disso participei de uma situação de pura evolução. Luisito me lançou de frente para uma onda em pura sincronia com a sua energia. Foi a rasgada mais gostosa que executei ali, apesar de a onda não ser uma das maiores.

Tive a oportunidade de ver o mestre Luisfer riscar as ondas com harmonia e explosão nos momentos mais críticos. E quase romper seu joelho, como ele mesmo me relatou mais tarde, por conta de um bump gigante. Luisito, filho de Luisfer, como sempre, mostrava que seu sobrenome "Gomes De La Torre" é um referencial de atitude e coragem, fazendo um trajeto no limite de uma parede tubular e assustadora por sua largura e potência.

Após três horas de tow, uma situação inusitada, mas natural para quem pratica este esporte: um jet capotou por conta de uma onda e por pouco o piloto e o tow não pagaram um preço maior. Foram, ambos, resgatados pelos Ocean Riders, e comemoraram a experiência. Acho que as mãos de Deus estavam presentes naquele momento.

Quando sai do mar falei ao mestre das dores que sentia no músculo das minhas pernas e como isso me atrapalhava. E ele, mais tarde, me convidou para, no dia seguinte, fazermos treinamento específico que evitaria as tais dores. Foi quando entendi como resiste a tanto tempo de tow. O treino consiste em, uma vez por semana, subir uma montanha íngreme de bike, em três series de cinco subidas, com descanso de 10 minutos.

Entre as séries, duas vezes por semana, tem de se andar em alta velocidade em pista reta com a bike. Durante o treino, em minha terceira subida, achei que não a completaria devido a fortes dores que sentia em minha perna. Mas resolvi me superar para não desapontar o mestre. Completei a série em meu tempo, pois eles me passavam a todo o momento na subida com um sorriso aprovador e estimulante.

Certamente adotarei esse treinamento assim que retornar ao Brasil e descartarei alguns dos que faço e que de nada adiantarão nesta temporada em PICO ALTO.

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