Dá-lhe, Mineirinho!

Foto: Paulo Dias/Billabong
NO TOPO Mineirinho ergue o troféu. Pela vitória, vai embolsar US$ 100 mil
Fotos: Kirstin/ASP
EMOÇÃO De carona no jet sky, Mineirinho não segura o choro
RADICAL Com exibições seguras, o paulista  bateu um a um dos seus adversários
HISTÓRIA Pela primeira vez, um brasileiro lidera o circuito mundial de surfe
Era a torcida de Maracanã bem ali na Barra da Tijuca. Adriano de Souza (Mineirinho), o Zico preparado para mais um lance mágico, um drible curto, um lançamento desconcertante. Aquilo não era uma peleja dos gramados, embora, a cada onda de Mineiro, o grito da torcida tomasse as areias da praia. Um urro como se a bola acabasse de estufar a rede. Num clássico mundial diante do temido Taj Burrow, o paulista fez valer o seu mando. Em duas ondas, simplesmente operou o impossível, a única coisa que se permitiria  naquelas condições da Barra. Sacramentou a vitória sobre o australiano. Sacramentou mais: pela primeira vez, um brasileiro lidera o ranking do ASP World Tour.

Mineiro necessitava de mais que apenas o surfe no pé. Em todo o evento - e até mesmo na vitória contestada sobre Owen Wright, nas quartas de final -, foi muito mais cabeça. Como um meia cerebral que antevê os principais lances, driblou adversários, encontrou os caminhos corretos para a vitória. A pressão imposta a Taj fez o australiano amolecer as pernas, cair em situações que, geralmente, teria domínio absoluto. A cada queda, o supracitado urro explodia entre a galera, também responsável pela instabilidade do australiano na bateria. Mesmo Mineirinho, ao marcar o 8, deixou-se levar pela torcida. Colocava as mãos na cabeça como se não tivesse acreditando no que estava acontecendo, pedindo para o relógio se apressar. Até nesse momento, "segurou a onda", como diz a tribo do surfe.

As lágrimas de Mineiro ao término da contagem de tempo, só não emocionou os impuros de coração. Estava lá. Havia de tudo no seu pranto. Observavam-se ali o troco em Taj, de quem tinha perdido em Snapper Rocks; os anos a fio de treinos para chegar ao topo; o desejo contido até o último segundo de ver os cariocas explodindo de emoção; a vontade de sair do mar, passar correndo por todos, correr entre o staff e abraçar demoradamente o seu manager, Luiz Campos (Pinga). "Quero agradecer Pinga porque ele sempre acreditou em mim. Estou feliz por defender o sangue de Jadson, que venceu no ano passado. Obrigado a minha família e a torcida que esteve aqui", afirmou, aos soluços.

Se priorizou Pinga, ao sair do mar, Mineiro retribuiu o carinho pulando para a torcida, logo depois. A saga do garoto, que desde os 18 anos compete na elite, está apenas começando. O surfe é um esporte difícil de vencer, ainda mais no WT, dominado pela mesma corriola de sempre. Não pela vitória no Rio, mas pelo que ela representa - nível de surfe e concentração superiores do garoto -, ficou no ar que o Brasil está, finalmente, perto de ter um campeão ao fim de uma temporada. O passo foi dado. Pelo menos até a etapa de Jeffreys Bay, o paulista Mineirinho, de família potiguar - essa mistura de regionalismos... -, vê todo mundo do topo. E não vai deixar o lugar sem guerrear, como sempre. Afinal, este é o Mineiro que o Brasil conhece.

Final, com Taj


Sêmis, com Bede Durbidge


Quartas, com Owen

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