Multiplicação do Quinteto do surfe

TERCEIRO Halley Batista voou alto para ficar com a terceira colocação do evento
Fotos: Petrobras nas Ondas/Divulgação
PRESSÃO A cada evento, Luel mostra mais consistência no seu surfe
IDEALIZADOR Alan, líder do Quinteto, detonou no Petrobras Nas  Ondas
O ditado popular reza "juntar os cacos e seguir em frente", quando algo se quebra pelo meio do caminho. É justo, autoajuda das boas, mas se recompor após um grande baque é difícil, desafio para poucos. O ato de renascer é explicito, emblemático até, no Quinteto Fantástico de Maracaípe. Aos poucos, os meninos que sobram em vontade de vencer no surfe e faltam em dinheiro e oportunidades, vão ocupando um espaço de destaque no cenário nacional - embora o foco, sem falsa modéstia, seja o globo terrestre.

No último Petrobras nas Ondas, na Praia de Pitangueiras, em São Paulo, dos oito finalistas estavam lá três integrantes do Quinteto: Alan Donato, Halley Batista e Luel Felipe. Alan fez belas exibições durante todo o evento, Halley voou como nunca, ficando na terceira colocação, e Luel, com seu surfe cheio de pressão, em segundo. O Petrobras Nas Ondas é um campeonato da divisão de acesso do Brasil Surf Pro (a elite nacional), mas está longe de ser uma competição de segunda, já que reúne todos os tops do Brasil, ávidos por disputas, pontos e dinheiro pelo Brasil afora. Isso, por si só, turbina o feito dos garotos de Maraca.

Não é fácil renascer após a proibição do surfe em grande parte das praias metropolitanas do Recife. Pina, Boa Viagem, Piedade e Candeias - e as de Olinda também, claro - eram criadouros dos talentos de Pernambuco. Mas, com os ataques de tubarões na orla, a ação mais imediatista foi "fechar" o mar para balanço, a fim de evitar outras mortes. Até agora, chegam perto de 50, ao todo. Sem o surfe na capital e adjacências, o esporte sucumbiu neste Estado, nos anos seguintes. Simples assim.

Mas aos poucos os cacos foram recolhidos.  Em Ipojuca, principalmente - outros focos também resistiram entre o Nordestão e Gaibu, no Cabo de Santo Agostinho -, Alan, Halley, Luel, Júnior Lagosta e Cezar Aguiar, entre outros, saíam das incubadoras no meio desta década. Não tiveram vida mole, mas começaram a despontar. Aqui e ali. Viajaram como puderam, não receberam a devida atenção das marcas locais para serem trabalhados desde a infância. Mas não desistiram. Colaram os pedaços.

Sair por aí correndo atrás de pontos e vitórias nos circuitos é o que o mercado exige dos surfistas, em sua totalidade. E pelo caminho, o Quinteto enfrenta uma realidade diferente da sua. Tem de se digladiar com monstros nacionais trabalhados em "laboratório" desde as primeiras remadas, com várias temporadas de Havaí nas costas, freesurf e surfe treino nas melhores ondas do mundo, infraestrutura que contempla técnicos, equipes multidisciplinares, aulas de inglês, natação. E assim vai.

São nessas disparidades que a força do Quinteto sobressai. Os caras vão para a água, sem qualquer rancor - quem conhece a trupe sabe disso -, e parte em busca do sonho. Garra explícita. Às vezes perdem, mas também começam a ganhar. A se fazerem respeitar. Aqui e acolá vão construindo uma história. E quem tiver um pouco de sensibilidade pode tirar proveito dos gladiadores do surfe pernambucano. É deles, pontuações no ranking e dinheiro de premiação à parte, que vêm a força que impulsiona o surfe estadual para dias melhores. Apenas deles.

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