A real dos gringos

LIDERANÇA Mineirinho está no topo do surfe mundial
SUPERMAN Medina, o super-herói brasileiro, venceu a última etapa prime da ASP
O zum-zum-zum na transmissão da etapa prime em Saquarema doía no coração. Está certo que o Brasil não tem ondas consideradas "internacionais". Mas o discurso agressivo de alguns tops contra etapas importantes do Mundial em terras tupiniquins feria agudamente. Ninguém gosta de ver sua terra ser alvejada de forma covarde. Nós podemos falar, os estrangeiros não - isso é o básico de qualquer manual do ser patriótico. Ainda por cima, não dá para aceitar incólume às agressões, desferidas mais por causa do atual momento do Brasil no planeta surfe do que por outra coisa.

Isso mesmo. O Brasil, nestes primeiros seis meses, simplesmente roubou as atenções. Nem Taj Burrow, nem Joel Parkinson, muito menos o decacampeão mundial Kelly Slater foram capazes de apagar o holofote que teima em acompanhar os brasucas onde quer que estejam. Estão no topo de qualquer ranking profissional que se preze. No ASP World Title, aparece Adriano de Souza, o Mineirinho. No Mundial de ondas grandes, lá está Marcos Monteiro.

O que falar dos últimos eventos prime do ASP World Tour? Gabriel Medina saiu vencedor na Praia da Vila, em Santa Catarina. E Miguel Pupo reinou no clássico pico de Trestles, na Califórnia. Na ponta do lápis, os únicos competidores que podem ingressar, nos dias atuais, na elite mundial, na troca que estrá por vir do meio do ano, são brasileiros. Os próprios Medina e Pupo, mais Willian Cardoso. Conseguiram furar uma barreira quase intransponível levantada pela entidade que rege o surfe internacional. É preciso estar em estado de graça para entrar na elite com as regras protecionistas dos tops. E lá estão, três brasucas dando show.

É como se este sucesso agredisse os imortais do surfe mundial. Rebelar-se contra as ondas brasileiras, que desde os mais longícuos anos do circuito da ASP estiveram presentes, é estranho. Alguém se lembra do Waimea 5000, em meados dos anos 1970?. Ferir as condições de mar do Brasil não é ser sincero. É tocar na ferida indiscriminadamente só para levar vantagem numa discussão que está sendo vencida com o melhor dos argumentos. A Barra não fez feio no WT - podia ser melhor, mas teve ótimos momentos -, Saquarema também. E a Vila, nem se fala.

A filosofia do circuito dos sonhos idealizado pela ASP é correta. Surfar as melhores ondas é preciso. Sejam elas em beach breaks, point breaks ou reef breaks. O período de espera das competições teve acréscimos importantes. Em Teahupoo, são 12 de janela. Justo demais. Tudo para extrair o melhor. Mas parece que isso se transformou numa psicose sem precedentes. E as pessoas se esquecem que o surfe, num lance de falta de sorte, pode ser disputado em condições ruins. Trata-se da natureza e de suas possibilidades. Bruno Santos foi campeão em Tchopo em ondas de meio metro - embora tenha dado show quando as condições estavam perfeitas e grandes.

É importante estar preparado. O surfe, na vida real, não é vídeo game. Da mesma maneira que a Barra não esteve tão boa em maio, outros picos, vez por outra, decepcionam. Snapper Rocks quebrou no mínimo para ser realizado o evento, este ano. Bells acordou nessa última edição, mas nos anos anteriores não passou perto do que é capaz. Tanto que Johanna recebeu algumas disputas do WT. Trestles e suas ondas mágicas também não quebraram com mais de um metro no Lowers Pro, vencido por Miguel Pupo. Claro que acampar num desses picos é ter a possibilidade maior de realizar um evento em situações épicas. Mas a conta será sempre subjetiva.

O português Tiago Pires, o Saka, foi um dos que mais reclamaram do WT do Brasil. Parece ter esquecido que Kelly fez a final com Jordy Smith, em Peniche, Portugal,  no ano passado, em marolas de dar dó. É bom surfar na perfeição, mas é bom entender que situações difíceis de mar também servem para testar a capacidade de cada um dos competidores. É num mar diferente, camaleônico, ruim ou mesmo pequeno, que se pode tirar ao máximo da criatividade dos profissionais, do seu poder de disputa no tabuleiro de xadrez. Sou contra os que pensam que a saída para os eventos de surfe são as piscinas de ondas, milimetricamente perfeitas. Neste momento, o esporte vai perder o seu brilho. Vai ser tudo igual. Sempre.

PS - Que os gringos apenas entendam que o que estar por vir é simplesmente o momento brasuca. Todas as grandes potências do esporte já tiveram seu apogeu , há que se respeitar o tempo do Brasil.

Comentários

  1. Isto e' conversa de perdedores. Quando as ondas se tornam inimigas, o competidor esta a um passo da estagnacao.
    Vale lembrar que dentro do Brasil tambem temos este tipo de comportamento, ou sera que nao ha sempre uma "chiadeira" com relacao as etapas em ondas nordestinas.

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