Bob dá o tom da despedida

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DE SAÍDA De saco cheio da ASP, Bobby vai disputar a sua última etapa em NY
É verdade mesmo que "surfista só quer surfar?" Escutei a frase, recentemente, de um amigo envolvido até a medula com o esporte. Ele, por sinal, se a expressão for mesmo real, faz parte da outra ala. A dos querem ir além das batidas e dos tubos. A verdade é que aquilo me pegou de surpresa. Tratava-se, ali, de um sentença cruel. Viver alheio ao redor é um destino duro. Mesmo o conhecimento superficial é alguma coisa. Ao escutar o desabafo, causado pelo pouco empenho de outros em questões necessárias para a evolução de uma comunidade, perdi um pouco a fé no profissionalismo da modalidade. Até ler sobre a desistência de Bobby Martinez do ASP World Tour (WT). Oposto ao pensamento dos dirigentes que mandam no esporte em âmbito mundial, faltou as etapas de Jeffreys Bay e do Tahiti, mesmo sendo um grande vencedor em Teahupoo - na sua carreira, contam-se duas vitórias na Praia dos Crânios Quebrados. E deve se despedir de vez das competições, mesmo estando no auge.

Bobby atirou para tudo que é lado. Mas, no fim das contas, o estopim foi não compactuar com o corte do "meio do ano" do Dream Tour, como é chamado o WT. Depois da etapa de Nova Iorque, os dez piores da elite vão ceder a vez para os 10 melhores do One Ranking. O norte-americano é radicalmente contra. Grosso modo, acha injusto os que entraram no início do ano só ter a metade de 2011 para poder se segurar na nata e vislumbrar o título mundial. Como ser pensante, trouxe luz a outras questões. Entende que os circuitos da divisão de acesso e da elite deveriam seguir caminhos parelelos. Sem essa de requalificação para aqueles que perderam no WT, mas foram bem no antigo WQS. Mais: discorda da diminuição da elite de 44 para 32 atletas, uma vez que os eventos continuam precisando de três a quatro dias para serem realizados. À época, o argumento dos diretores para o enxugamento do quadro era que, com uma elite menor, a competição poderia ser encerrada mais cedo.

A ASP é como qualquer órgão regulamentador esportivo do mundo: déspota. Dificilmente escuta as opiniões de fora. Muito menos dos que são parte indispensável do show. É sujeita a políticas das mais obscuras para poder saciar, apenas, os seus desejos e intentos. O próprio Bobby expôs que nem mesmo os representantes dos atletas têm tanta intenção assim de levantar a bandeira da categoria. Do jeito que está hoje, com apenas 32 atletas na elite e com requalificação pelo One Ranking, ninguém entra, ninguém sai. As disparidades de pontuação são imensas entre o WT e o One Ranking. Só fenômenos - e em estado de graça -, como Gabriel Medina e Miguel Pupo, conseguem romper a barreira da elite. E mesmo assim, se não se adequarem logo ao circuito, podem sair em oito meses. E os sonhos? Que se danem todos. É o que devem pensar os figurões da ASP.

Bobby falou. Não deixou por menos. Está dando a sua contribuição para a evolução do surfe. Trocou umas ideias com o novo chefe, refletiu sobre o assunto e decidiu, simplesmente, deixar o Tour. Muitos podem não entender o significado dessa atitude, mas deixar o cheque das principais competições do planeta de lado - ainda mais agora que a divisão dos prêmios é feita para menos surfistas - soa como atitude destemida e grandiosa. É para, a cada queda em mar perfeito ou naquele beachbreak ruim e mexidão, pensar bem o que se quer para o futuro do esporte. É preciso discordar, mostrar insatisfação e, às vezes, cortar na própria carne para fazer a revolução. Bobby entendeu isso. Vai competir a etapa de Nova Iorque, a pedido do seu patrocinador. Em sua casa, o gran finale de uma bela carreira. Ou pelo menos um até breve. "Se eles mudarem, eu volto", declarou o norte-americano.

O garoto em ação!

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