A dor e a felicidade de ser surfista

EMBARQUE Alan (E) e Halley: mais uma parada na busca pelo sonho de viver do surfe

Ondas, gatinhas na areia, acordar para surfar, surfar para dormir. Lifestyle invejado entre esportistas, engana-se quem acha que a vida do profissional do surfe é moleza. Sobreviver no meio requer paciência, muitas quilometragens e longos períodos afastado da família. Do pernambucano Alan Donato vem o exemplo. Feito seu cronograma de eventos e viagens, ao todo vai passar dois meses indo de um canto a outro, correndo atrás de oito campeonatos - se tiver a oportunidade de disputar todos os elencados. À sua extensa área já percorrida no Globo, adicionará mais 33.047 km na sacola. É como se o atleta ipojucano desse quase uma volta completa na Terra, cuja circunferência chega a 40.075 km.

Viajar no surfe é uma constante. Antes de embarcar para a nova empreitada, Alan estava no Estado havia seis dias. Durante o mês de agosto - e início de setembro -, andou pela Europa para participar das competições da divisão de acesso organizadas no Velho Continente. Passou por Inglaterra, França e País Basco. "Quando eu soube que o campeonato de Portugal havia sido cancelado, perguntava a toda hora quando ele iria voltar. A passagem dele de volta estava para o dia 11. Ele voltou no dia 6. Acontece, no entanto, que ficou apenas seis dias aqui. E já viajou novamente para passar um mês, 45, 60 dias fora. Só Deus sabe", reclama Jéssica Chalaça, a noiva do atleta.

Nos seis dias que Alan passou nem Ipojuca, após retornar da Europa, muito foi para resolver assuntos da vida prática. Queria visitar a mãe, se relacionar mais com a família do pai, que mora em João Pessoa (PB), mas o surfe o chamou de novo. E está novamente no mundo, especificamente no Rio de Janeiro, onde disputa o Petrobras nas Ondas, na Praia do Arpoador, a partir desta quinta-feira (14/09). Num dos últimos e-mails que recebeu da mãe, Maria Helena, estava lá, escrito: "Lá vai o lençol, filho!", lembrando o gesto feito por anos, assim que o filho pegava no sono, em sua cama. Cena ilustre da saudade, no limite, da mãe. O sentimento é recíproco.

Foi pensando nas pessoas amadas, que resolveu dar uma passada rápida em Pernambucano, no intervalo entre o Brasil Surf Pro, disputado a partir do dia 21, e o Campeonato Carioca, marcado para o dia 8 de outubro. Pega um avião e retorna para Ipojuca. Não sem ter um evento no meio do caminho. "Como a segunda etapa do Pernambucano deve acontecer no dia 1º de outubro, corro a competição, vejo todo mundo, e volto para o Rio para disputar o Estadual de lá", explica.

Alan viajou para o Rio (Petrobras nas Ondas) no dia 12 de setembro. De lá, vai para Ubatuba (Brasil Surf Pro), disputa o Pernambuco (Campeonato Estadual), volta para a cidade carioca (Estadual do Rio), parte para Itamambuca (SuperSurf 6 estrelas), retorna à Cidade Maravilhosa (WQS 6 estrelas no Arpoador), viaja logo depois para a Califórnia (Oneill Coldwater 6 estrelas Prime) e, por fim, desembarca em Santa Catarina (WQS 6 estrelas) - esta última data ainda está para ser confirmada. "Essas viagens são uma loucura. São fusos diferentes, ondas também. Algumas geladas, outras quentes, outras mais pesadas, outras tubulares. Mar mexido, pequeno... Enfim, é bem complicado", afirmou.

Para viver o sonho de ser surfista, vale tudo. E, aqui para nós, no meio de toda essa dureza, há de se ressaltar a diversão com os amigos, o conhecimento de outras culturas, a confraternização com outros atletas e o dinheiro das premiações, claro. "Foi isso que escolhi para minha vida. Então, tenho que correr atrás do meu sonho. Tenho muita sorte de poder viajar e participar de campeonatos. Muitos aqui no Estado tem talento, mas não tem apoio. Isso é o pior", concluiu Alan Donato.

VOLTA AO REDOR DA TERRA
Recife/Rio - 2.338 km
Rio/Ubatuba - 310 km
Ubatuba/Recife - 2.640 km
Recife/Rio - 2.338 km
Rio/Itamanbuca - 320 km
Itamambuca/Rio - 320 km
Rio/Califórnia - 10.131 km
Califórnia/Floripa - 11.275 km
Floripa/Recife - 3.375 km

CAMPEONATOS
14 a 18 - Petrobras nas Ondas, Arpoador, Rio de Janeiro
21 a 25 - Brasil Surf Pro, Ubatuba, São Paulo
1 e 2/10 - Pernambucano, Pedra de Charéu, Cabo de Santo Agostinho
8 e 9 - Campeonato Carioca, Arpoador, Rio deJaneiro
11 a 16 - SuperSurf WQS 6 estrelas, Itamambuca, São Paulo
10 a 23 -  WQS 6 estrelas, Arpoador, Rio de Janeiro
26 a 30 - Oneill Coldwater 6 estrelas Prime, Santa Cruz, Califórnia
2 e 6/11 - Brasil Surf Pro, Florianópolis, Santa Catarina (a ser confirmado)