ENTREVISTA/Ernesto Nunes

Fotos: Victoria Desenzani
RADICAL Ernesto aplica um layback que desde já entrou para a posteridade
AFIADO Em Porto Rico, na última trip, ele pôde treinar várias manobras. Sequência acima
HOMEM-PÁSSARO Pernambucano inicia decolagem para avião nenhum botar defeito
REVERSE Ernesto não quer saber se vai cair. Quer mesmo é extrapolar limites
COLORIDO Achando cinza a foto, não teve dúvidas: colocou umas cores no ar
Ernesto Nunes é aquele cara que, quando chega, o barulho se instaura. Não o barulho de confusão. Mas o feito por gente que é benquista, que as pessoas têm vontade de trocar um papo, de estar junto. Bom contador de história, não tem uma só reunião que não domine as atenções. Dentro da água, Ernesto é tão alegre quanto fora dela. Criativo, não poderia cair na mesmice de sair por aí disputando o WQS, como todos os brasileiros fazem. Optou por morar no Peru e, de lá, tornou-se o brasuca mais conhecido no ALAS Tour, que é o circuito latino-americano - com direito a título em 2007. Tornou-se referência do esporte nesses lugares. Há sete anos, construiu um nome e uma vida na praia de Caballeros, onde ergueu sua pousada. Pelas Américas, além de correr o Tour, pega ondas de sonhos, que muita gente nem sabe da existência. Se quer voltar para cá? Dificilmente. "Tenho o Tour e as ondas são muito melhores por lá", brinca. Recife, só para rever amigos e família. "Quando chego aqui, nem surfo. Só quero estar com quem eu gosto". Abaixo, os principais trechos da entrevista.

SURF IS IN THE AIR - Você fez o caminho inverso de outros surfistas. Encarou o ALAS, que é um circuito que poucos brasileiros correm. O que te motivou a isso?
ERNESTO NUNES - Na verdade, muitos brasileiros não competem no ALAS porque, saindo do Brasil, o tour se torna muito caro. E os brasileiros preferem investir no WQS. Comecei a competir no ALAS porque, como estava morando no Peru, ficava mais fácil corrê-lo, já que a maioria das etapas era aqui perto, como Argentina, Equador, Peru e Chile.

SURF IS... - Quando tomou a decisão de ir morar no Peru?
ERNESTO - Fiz minha primeira trip para o Peru em 2003, junto com alguns amigos do Recife (Júlio Marques, Pedro Pinto e Toquinho). Como todo brasileiro, fiquei louco pelas ondas do Peru. A trip durou 40 dias. Nesse mesmo ano regressei quatro vezes. Como tinha altas ondas e o custo de vida é mais barato que o Brasil, resolvi passar um tempo aqui, treinando. Não demorou e comecei a competir o circuito latino-americano e fui bem. Aí as coisas foram fluindo. Hoje moro aqui em Punta Hermosa. Já faz 7 anos.

SURF IS - Você é um especialista do surfe latino-americano. Nessas suas andanças, como avalia o surfe nos países onde o ALAS costuma passar?
ERNESTO - El Tour tem crescido bastante e tem ajudado na evolução do surfe em muitos países da America do Sul, Central e Caribe. Hoje temos etapas de muito nível, como as do Equador, Peru, México, Panamá, Costa Rica e Porto Rico, especialmente, que têm um excelente nível e atletas que competem no WQS.

SURF IS... - O que você pode falar do nível das ondas do circuito e dos atletas. Já surfou em muito pico que ninguém sonha que exista?
ERNESTO - Falando sobre as ondas podemos chamar o Tour de um "mini WCT" (a elite mundial), porque as etapas são em ondas de qualidade, point breaks em países de altas ondas na temporada certa. Este ano, tivemos etapas em Punta de Lobos, no Chile, com 2 metros, sem baixar, em todo o evento. No Peru, a competição foi no pesado beach break de Chilca. E começou com 8 a 10 pés. Também na Nicarágua, pegamos altas ondas, como em Montanhita, no Equador, que e um clássico do circuito, tendo um período de espera de uma semana. E os atletas só entram na água com as melhores condições. Sempre nesses países ficamos um tempo maior para conhecer os secrets e surfar altas ondas que ninguém conhece. America Central mesmo tem um potencial inacreditável e o nível dos atletas tem subido muito.

SURF IS... - Em relação a patrocínio, as empresas têm chegado junto dos surfistas? Está tudo tranquilo com você em relação a isso?
ERNESTO - Na verdade, pelo fato de eu ser brasileiro e não viver no Brasil, tenho muitas dificuldades em relação a patrocínio. Por não viver no Brasil, as empresas não querem investir por não acreditar no retorno do Tour Latino. As empresas latino-americanas também fecham muitas vezes as portas por eu ser brasileiro (risos). É uma palhaçada, mas pouco a pouco isso tem mudado e tenho conseguido me manter dentro do Tour, por meio das premiações e apoios que tenho agora.

SURF IS... - Como é essa história de ser um tipo de embaixador do surfe, no Peru? Você recebe muitos brasileiros por aí, não é?
ERNESTO - Sempre vem muito brasileiros ao Peru. Tem altas ondas tanto para um iniciante como para um profissional. E hoje, junto com um amigo australiano, temos um hotel na areia da praia de Caballeros, onde a brasileirada vem com tudo e se sente em casa.

SURF IS... - Como foi o início no surfe, em Pernambuco?
ERNESTO - Comecei surfando no Pina, onde mora toda minha família. Junto com alguns amigo do bairro, começamos a surfar no primeiro jardim. E nunca mais parei (risos). Mesmo depois dos incidentes com os tubarões, ainda estava na água.

SURF IS... - Era destaque nas categorias de base?
ERNESTO - Com dois anos de prática, comecei a competir nas categorias de base dos circuitos Pernambucano e Seaway. Logo fui bem, fazendo final na iniciante e mirim. Cheguei a ser vice-campeão brasileiro open, campeão pernambucano júnior e fiz algumas finais no Nordestino Open, que tinha um nível animal.

SURF IS - Quais eram a sua influências no início e por quê?
ERNESTO - Logo quando comecei a surfar no Pina, tive varias pessoas que foram importantes para meu início como Breno e Brit, proprietários da Sureall Racks, que não mediram esforços para pagarem minhas inscrições e passagens para poder competir dentro do nordeste. Se não fossem eles, não estaria onde estou hoje. Também tenho q falar de 2 pessoas que me ajudaram muito, que foi Mauricio Bandeira, que me levou para Maracaípe e me acolheu em sua casa. Me deu pranchas, comida, me ensinou todas as técnicas de competição. Foi como um pai que nunca tive. A outra pessoa é Dario, de Olinda, da Missão Surfistas de Cristo, que não mediu esforços e me patrocinou durante anos, pagando todas as viagens e campeonatos. Agradeço de coração a todas essas pessoas.

SURF IS... - Cada ano que você passa longe de Pernambuco fica mais difícil seu retorno?
ERNESTO - Realmente, ficou mais difícil voltar para o Recife, por competir no Tour Latino. E também por causa das ondas que surfo aqui, que são excelentes (risos). Quando chego no Recife, na verdade, só quero estar com amigos e família. Quase não surfo (risos). Mas me encanta estar no Nordeste, com a água quente e toda a vibe da galera do nordeste, que e incrível.

SURF IS... Já traçou algum tipo de planos para os próximos meses?
ERNESTO - Acabei de chegar de uma trip animal por toda América Central e peguei altas ondassssss. Comecei no Panamá, Costa Rica, Nicarágua, El Salvador e Guatemala, ida e volta, surfado em lugares que ninguém nem sonha que têm nessa região. Fui também ao caribe do Panamá e pegamos altas. Agora vou ficar aqui no Peru até dezembro, dando uma assistência aos hóspedes que vêm aqui na Caballerossurfhouse. E logo depois vem as ultimas etapas do Tour Latino em Porto Rico e Venezuela.

Abaixo, um pouco de surfe do pernambucano Ernesto, imagens colhidas do Norte ao Sul do Peru. E tome lapada.

Comentários

  1. Com muita satisfação que deixo um abraço para o meu grande amigo de infância ( tampinha ) Que mesmo com os ataques de tubarões 🦈 ele nunca deixou de surfar no PINA. Um abraço grande para você meu amigo desejo que você tenha ainda mais sucesso.

    Junior ( de Tereza )

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  2. Com muita satisfação deixo meu comentário. Meu amigo de infância que vir crescer e também vir o crescimento dele pelo o gosto de surf no pina. Um forte abraço meu amigo ( tampinha )

    Ass: Junior ( Tereza )

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