Tininha, o fenômeno esquecido

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NO ALTO, SEMPRE Tininha continua sem patrocínio, sendo a melhor do Brasil
O que tem em comum a surfista Diana "Tininha" Cristina e o guerreiro Filipe Camarão, um dos vultos históricos mais importantes na expulsão dos holandeses do Nordeste? De súbito, a etnia indígena potiguara. Mas não é só isso. Tininha e Potiguaçu - nome de Filipe antes do batismo cristão - tem a guerra correndo nas veias. Cada um na sua época carregam/carregaram bandeiras em prol de um bem maior. E lutaram muito por isso.

Tininha é o amor pelo esporte. Filipe Camarão, o Potiguaçu, a paixão pela autonomia de uma terra e de um povo a quem se dedicou até os últimos momentos de sua vida.

Tininha é um desses fenômenos ocasionais do esporte nacional. Nasceu na tribo Potiguara, nos dias de hoje situada quase que em sua totalidade na Praia da Baía da Traição, na Paraíba. Foi lá que deu as primeiras remadas. Sem adversárias à altura, competia ao lado dos meninos da sua vila. A dureza da disputa contra o sexo oposto modelou o estilo agressivo dentro da água. A indiazinha potiguara é, sem dúvida, o maior talento feminino do surfe depois de Silvana Lima.

Alguma coisa, no entanto, atrasa a vida da guerreira dentro do esporte que ama e escolheu para viver. Tininha costuma "humilhar" - no bom sentido - as adversárias dentro da água. Está anos-luz à frente de outras tidas como futuro do surfe nacional. Quase todas contam com patrocínios razoáveis. Só Tininha não é procurada pelas empresas do segmento.

Tamanha insensibilidade do mercado é irritante. Qual é? É o "shape" que não está de acordo com os padrões do surfe internacional? Surreal esta opção.

Como quase sempre ocorre no Brasil, aos 21 anos ela enfileirou competições e ganhou todas, este ano. Vive do dinheiro das premiações. Tem de vencer. Pressão que não cessa um só segundo. Ao contrário das com salários e outras regalias, não pode se dar ao luxo de cair ante adversárias.

Quem vai pagar as viagens? Ela, não é mesmo? No último domingo, colocou mais uma taça na sacola. Venceu a etapa paulista do Brasil Surf Pro, a elite do surfe mundial, e lidera firmemente o ranking nacional. Segue sua rotina. De vencedora, batalhadora e esquecida.

Até que um dia, quem sabe?, alguém possa enxergar o óbvio e dê condições para que esse talento possa, enfim, ganhar o mundo.

Abaixo, melhores momentos de Tininha numa etapa do WQS vencida no Costão do Santinho em 2008. As imagens não estão tão boas, mas serve para ilustrar o surfe que a indiazinha carrega debaixo dos pés. É um fenômeno esquecido, certamente.

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