O camaleão que existe em Mineiro

DNA DE CAMPEÃO Mineirinho, a cada ano, torna-se a promessa que vai vingar
Adriano de Souza é uma espécie rara de atleta que já nasceu com talento e se reinventa. No Guarujá, ainda criança, recebia o peso de ser, mesmo sem saber o que aquilo significava, o futuro do Brasil no surfe. Os anos passaram e a vitória sobre Slater na final do Portugal Pro, em Supertubos, Peniche, esta semana, carrega muito mais do que a apitdão natural exaltada do início dos anos 2000.

Nascer com um dom é a base de tudo. Saber mudar com o tempo e procurar a evolução ininterrupta é para poucos. Esse sim é o diferencial do paulista, de família potiguar, que fugiu do interior do Nordeste para buscar uma vida melhor no Sudeste Maravilha. Se o apontavam como prodígio nacional antes mesmo de chegar no ASP World Title, há seis anos, Mineiro só comprova ter o sangue-azul de quem vai, enfim, dar o tão perseguido título mundial ao País.

Com o instinto de camaleão, Mineiro chegou no WT. Logo na estreia, fez uma terceira posição, na Austrália, naquela de "sorte de principiante". O que transbordou a seguir foi a certeza de que o garoto teria de treinar muito para acabar com a sua instabilidade no Tour, que durou uns três anos. Tinha dificuldade nas ondas pesadas, de entubar de backside e procurava encontrar um meio-termo entre as manobras aéreas, das quais era especialista e as tradicionais.

Ao invés de achar que as críticas eram infundadas, como todo fenômeno, passou a trabalhar melhor os fundamentos nos quesitos que fazem a diferença na disputa do título mundial. Aos poucos, aliou sua capacidade de aprendizado ao talento e explodiu. É completo. Na marola ou em condições críticas.

Nas últimas três temporadas, passou a ser respeitado e não perdeu mais o foco. É jovem, tem 24 anos, mas a rodagem no Tour, no qual entrou com 18 anos, após fazer a maior pontuação na divisão de acesso já vista até então- estamos falando em 2005 -, está preparado para tomar de assalto o circuito. Está no início da sua vida competitiva, num patamar semelhante aos grandes nomes do circuito, sem chegar ao seu ápice.

Em 2008, na sua passagem pela Praia do Forte, na Bahia, em entrevista ao repórter do Jornal do Commercio João de Andrade Neto, já ostentava uma quarta posição no circuito, mas mesmo assim entoava seu mantra: "Tenho de treinar para minimizar meus pontos fracos".

A vitória sobre Kelly é fruto de mutações de Mineiro ao longo dos últimos anos. Mudanças de um garoto que tinha talento de sobra, com uma ideia fixa de que aquilo não era tudo. No Mundial, entre os melhores, é sempre preciso mais. Ele aprendeu cedo a lição. Aliou sua gana competitiva ao dom e ao trabalho de crescimento profissional. Deu no que deu.

Não pense que Mineiro vai parar por aí. O circuito mundial como o mar dão diariamente um ensinamento para que se interessa. A aula em questão para Mineiro é também o seu último estágio de aprendizado: é preciso ser consistente. Ganhar mais. Não descolar das primeiras posições. Ele sabe disso mais do que ninguém. Ele sabe mais que ninguém que 2012 é o ano de ataque ao título. Espera e confirme.

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