Elite que castra, proíbe, desmotiva

Fotos: ASP/Divulgação
TIME REDUZIDO Jadson (acima) e Mineirinho devem permancer na elite
QUERIDINHO Slater foi um dos que mais lutaram para reduzir o número de atletas no WT

A ideia era colocar no ciberespaço, passados os campeonatos desta semana - Rip Curl Pro, em Portugal (World Title), e SuperSurf e O'neill Coldwater Classic (ambos no WQS) -, quem estaria classificado para a elite de 2011, caso a temporada se encerrasse neste domingo. E fiquei estarrecido ao comparar os dois rankings, e extrair os "pseudos" novatos do próximo ano. Já havia falado num artigo, aqui mesmo no Surf Is In The Air, que com as novas regras da ASP, chegar no WT seria uma tarefa inglória. Nunca a ASP foi tão carrasca com os futuros talentos do surfe mundial. Se algo não for feito e mudanças não tiverem vez no que foi decidido este ano, gerações inteiras vão ter de se contentar em ficar na areia da praia, assistindo os mesmos nomes de sempre, nas etapas do Mundial bem pertinho de você.

Se 2010 terminasse hoje, os 10 classificados para o próximo ano seriam:
- Taylor Knox
- Heitor Alves
- Adam Melling
- Matt Wilkinson
- Daniel Ross
- Joel Parkinson
- Travis Logie
- Gabe Kling
- Wigolly Dantas
- Dusty Payne

É nesta lista que encontra-se a bizarrice. Do grupo que iria para a Série A do surfe mundial só dois conquistaram o espaço disputando apenas provas do WQS: os brasileiros Heitor e Wigolly. Os outros já estão no WT - e dificilmente vão descer para que sangue novo, na mesma condição dos brasucas, suba para a nata.

Um motivo, de cara, já apresenta a competição inglória imposta pela ASP aos seus filiados. Existe uma disparidede enorme na pontuação entre os eventos do WT e do WQS. Um exemplo simples. Se um surfista cair, de primeira, na divisão de acesso de um campeonato prime, sendo o quarto da sua bateria, levará 87 pontos. Numa competição da elite, o profissional eliminado na segunda fase levará 500. Numa etapa de seis estrelas, o campeão leva 3 mil pontos. No WT, se o surfista cair na 5ª fase, já levou 3.750. O vencedor da elite, soma 10 mil.

Ao elaborar o circuito, com acesso e decesso, a ASP se preocupou mais com as infindáveis reclamações de Kelly Slater, e não emparelhou as pontuações proporcionalmente. E o que acontece é isso. Em 2011, o WT vai ser uma cópia de 2010. Não deixa de ser, por tabela, um prêmio para surfistas que tiveram um ano insignificante, como o havaiano Dusty Payne, que colecionou resultados medianos e ruins no WT, competiu outras etapas do WQS, e deve se garantir na boa, entre os melhores do mundo.

Para o Brasil, com tantos talentos e etapas do Mundial, parece que de nada adiantou. Não fosse Heitor Alves estar em estado de graça - ele venceu três eventos seis estrelas, este ano - e Wigolly detonando em algumas etapas do WQS, dificilmente a lista engrossaria. Talentos ficam à margem, enquanto temos de nos contentar apenas com Adriano de Souza, o Mineirinho, e Jadson André.

Só um detalhe: Guigui é o nono na lista de dez que sobem e já está acossado por quem vem atrás, como Josh Kerr, o 12º, com pouco mais de 1.100 pontos de distância.

No comentário Tarefa Inglória, aqui mesmo no SIITA (http://surfsintheair.blogspot.com/2010/04/tarefa-ingloria.html), alertava para o "Frankenstein" que a ASP estava querendo empurrar para a comunidade do surfe mundial. Um ranking unificado que não servia para nada - um WQS, com os melhores do mundo encabeçando-o - e outro que apontaria o verdadeiro campeão. Uma fórmula baseada na já consolidada da ATP (Associação dos Tenistas Profissionais), mas sem as mesmas especificações, organização e clareza. Ou seja, ficou tudo embaralhado.

Se quer se inspirar no ranking dos tenistas, então tem-se de criar eventos com pontuações equilibradas e critérios de participação nos campeonatos - do mais valioso para o menos valioso. E não colocar de lado a elite, em disputas milionárias, e a ralé nas competições menores. Há de se dividir em "grand slams", "masters", "challengers" e "futures" - com outros nomes, claro - para que seja criada a verdadeira corrida dos campeões. Fatalmente, os "Grand Slams" deverão ser disputados pelos melhores do mundo, como ocorre no tênis, assim com os masters 1.000 e 500.

A dinâmica vai ser maior, com certeza. Do jeito que está, há somente a intenção de beneficiar uma elite de 32 surfistas, que não representam a totalidade de um esporte que conta com mais de 20 milhões de praticantes no mundo.

Vale lembrar que, este ano, pouco se sabia como seriam as regras. Havia até um zum-zum-zum que dava como certa a participação dos dez melhores do WQS no WT, no meio do ano. Ou que, a cada três meses, teria uma avaliação de ranking, subindo e descendo gente da primeira e segunda divisões, para mexer mais com a estrutura da elite. E essas informações vinham dos próprios surfistas profissionais, que ficaram mais perdidos que tudo.

É uma pena ver sonhos de milhões de atletas serem jogados por ralo abaixo, por causa da  falta de sensibilidade, habilidade e inteligência prática dos dirigentes mundiais.

Comentários

  1. Olá Marcelo!
    Há um tempo atrás postei um comentário no Waves sobre a possibilidade disso acontecer. Mas ainda faltava a perna européia, brasileira, e Cold Water Series, eventos de peso que poderiam mudar a situação. Na segunda, 25 de outubro, fui ver as notícias em sites especializados, após a conclusão da perna européia e do Cold Water Prime em Steamer Lane. Verifiquei exatamente isso, que só o Heitor Alves e o Wiggolly Dantas conseguirão quebrar a barreira imposta pela a ASP. Em relação ao seu texto já houve um mudanças, pois Josh Kerr venceu o 6 estrelas no Canadá e pulou para a lista dos classificados, deixando o Wiggolly em 32 e Dusty Paine em 33. Só faltam 3 eventos relevantes, os Primes das Ilhas Canárias, Haleiwa e Sunset. Considerando que no Hawaii muitas vezes quem se dá bem nas morras não são os que estão perto para entrar, pode acontecer que o Wiggoly ainda saia desta lista. Apostaria, dentre os 40 primeiros, que Alejo Muniz, Dusty Paine e Tom Withaker levam vantagem por se darem bem em ondas pesadas, sendo que dois destes também fizeram parte da elite em 2010.
    Isso não está sendo horrível só para os brasileiros. Não haverão novos nomes australianos, norte-americanos, sulafrianos e europeus, na lista da elite de 2011. Vai ser ruim para todo mundo e não vai tardar para a chiadeira ser generalizada pelo globo.
    Vamos ver o que a ASP vai fazer, pois assim como está não tem a menor condição.

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  2. É isso aí, Zezão! Tb acho que essa chiadeira não tarda a chegar. E concordo em gênero e número que Guigui deve dar adeus à lista. E como vc bem lembrou, não se trata de uma injustiça apenas contra os brasileiros, mas contra toda a comunidade do surfe. Como disse, existem números que contabilizam 20 milhões de praticantes no mundo... Como elitizar tanto, então? Valeu pela sua participação e meu e-mail é o mhenriquejc@gmail.com. Qualquer coisa estamos aí. Abraços, Marcelinho.

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